Monday, April 14, 2008
13 de Abril de 2008 – 00:52
Me sinto velho, e pode acreditar que é uma merda de sentir velho aos 18 anos. Acho que é porque não me sinto velho fisicamente, mas me sinto velho espiritualmente. Que grande merda eu estou falando, nem sei ao menos como é ter qualquer idade espiritualmente, quanto mais ser velho assim. Talvez eu viva em um mundo da imaginação ridículo onde minha cabeça inventa situações e outras porcarias do tipo. Estou com saudade de casa, mas sei que se voltar pra lá vou me sentir infeliz e querer ir pra algum lugar que não sei onde. Gostaria de saber que lugar é esse que eu tanto desejo estar. Parece que por mais que eu procure eu nunca vou achar um lugar para mim. A dramaticidade é outra coleira que eu não consigo soltar. Que lixo. Lixo, lixo, lixo. Estou atolado de merda até o pescoço. Mesmo quando as coisas parecem boas aparecem as porcarias pra cuspir em minha cara e me mostrar como eu sou ridículo. Ás vezes tenho a impressão de que seria ótimo se todos sumissem da minha frente por algum tempo, mas depois penso que eu mesmo devia sumir da minha frente, e isso é impossível. Textos de merda, escritos uns atrás dos outros. Venho aqui e vomito essas palavras horríveis nessas porcarias. Inundo as páginas brancas com meu lixo tóxico. Tenho vergonha de mim mesmo, para mim mesmo. Digo isso porque escrevo isso só pra mim e só quem lê sou eu mesmo. Se eu pudesse dizer alguma coisa para mim mesmo (e acho que posso fazer isso) diria que sou um merda e imploraria para que eu parasse de escrever e parir mais textos de merda no mundo. Vá beber, jogar baralho, foder, andar, dormir, ou fazer qualquer outra coisa menos escrever. Mas o outro eu responde como o filho da puta que ele é que não pode fazer outra coisa. Que nasceu para escrever e que acha que tem talento e bla bla bla. Os dois eus ficam brigando. Dois babacas, pensa o terceiro eu. Na verdade ainda não sei quem é esse terceiro eu. Talvez seja um meio-termo entre o eu que se acha o máximo e o eu que se acha um merda, e talvez seja o pior dos eus. Agora penso que com esse raciocínio eu estou finalmente enlouquecendo, mas acho que ainda é cedo pra isso. Os três eus ainda têm muito a brigar. Quem sabe não aparecem mais dois ou três eus para foder com tudo de uma vez por todas¿ Não vejo mal nisso, juro que não vejo. Seria ótimo. Uma briga de tirar o fôlego. Socos e pontapés pra lá e pra cá. Enforcamentos e voadoras (sempre gostei desses golpes) e outras coisas do tipo. Só acho que seria interessante pedir ao meu eu vencedor que tenha um pouco de dó de mim, o rei dos eus.
12 de Abril de 2008 – 03:07
Pra ser bem sincero, eu não estou escrevendo muito, mas ao mesmo tempo estou escrevendo muito. Essa dualidade se deve ao fato de que talvez eu não estou mais escrevendo para as outras pessoas, estou escrevendo para mim, e isso é realmente ótimo. Agora com meu próprio computador eu tenho meu próprio diário. Estou atualizando ele a cada dois ou três dias e não mantenho nenhuma relação obrigatória com ele. Estou muito feliz com esse meu diário. Ainda não parei para ler as coisas que escrevi até agora. Talvez esse seja um bom momento para fazer isso, mas prefiro não estragar essa sensação prazerosa ao re-ler os textos e achá-los horríveis como acontece freqüentemente com as coisas que eu escrevo e releio. E pra ser sincero eu quase nunca consigo reescrevê-los novamente. Desconfio de alguns motivos para isso. O maior deles talvez seja o fato de que eu tenho medo de apagar as impressões reais e vivas que deixei ali. Por isso por pior que o texto seja me falta coragem para modificá-lo.
Ás vezes tenho uma impressão (pra ser mais sincero um sonho) de que um dia alguém (não só alguém, muitas pessoas no meu sonho) vai ler essas coisas e se identificar e realmente gostar, e quem sabe até mesmo sentir a mesma coisa que eu sinto em relação ao Fante, ao Salinger, ao Buk, ao Burroughs e a outros assim. Muito provavelmente essa seja talvez só mais uma das minhas viagens fantasiosas sobre a minha vida e meu futuro, mas em partes eu gosto de pensar assim. O único problema é que quando caio em si tenho um terrível sentimento de impotência e de inferioridade. Será que todos os escritores também passam ou já passaram por isso¿ É engraçado eu me colocar como um escritor. Geralmente eu nunca faria isso, e acho que só estou fazendo agora porque essa é uma divagação de mim comigo mesmo. Um tanto egocêntrica creio eu, mas não posso negar que me faz bem.
Pra ser bem sincero estou gostando um bocado desse texto. Um bocado não, talvez só um pouco, mas acho que provavelmente eu deva mostrá-lo para alguns poucos amigos e ver a opinião deles. Esse é outro problema bom e ruim. Preciso da opinião dos outros sobre os meus textos para me afirmar. Mesmo quando leio minhas próprias coisas e raramente acho alguma coisa fantástico ao ponto de duvidar por alguns instantes que eu tenha escrito aquilo por mim mesmo eu ainda me importo com o fato de se as outras pessoas vão achar tão bom quanto eu achei. Geralmente elas não acham. Não dizem isso com estas palavras, mas o fato de se omitirem é claro para mim de que o texto não passou de mais umas linhas lidas pra elas e de mais alguns minutos perdidos em suas vidas. As poucas coisas que escrevi que tiveram algumas críticas positivas foram relatos depressivos e textos de sentimentalismo barato. É outra coisa que já tentei me curar, mas depois de um tempo percebi que é impossível parar de sentir. Depois de perceber isso comecei a tentar direcionar meus sentimentos para outras coisas. Não digo outras fontes de expressão, porque escrever é talvez a única coisa que eu gosto de fazer. Se talvez eu tocasse violão provavelmente faria algumas baladas sentimentais do estilo Ryan Adams. Pra falar a verdade eu até arrisco escrever algumas músicas, e então me junto com meu amigo Hermano e fazendo sons com a boca e usando outras músicas relativamente parecidas como comparativo peço para ele ir fazendo a melodia assim e assado até chegarmos num consenso do melhor para a música. Funcionou algumas vezes. Fizemos uma meia dúzia de músicas assim, umas duas ou três realmente boas eu acho.
Também queria entender o fato de eu me apaixonar e desapaixonar tão fácil das garotas em geral. Tem dias em que penso em determinada garota com grande freqüência e intensidade mas dois ou três dias depois é como se um encanto houvesse passado e ela fosse como todas as outras. Já me peguei ficando apaixonado por garotas que vejo na rua e que nunca mais verei novamente, ou até mesmo por garotas que vejo com freqüência e nunca tinha pensado algo a mais até aquele momento. E depois passa. E outras vêm. E tudo continua a mesma coisa, na grande maioria das vezes (acredite, a grande maioria mesmo) eu nem ficando com elas e nem falando sobre o que sinto ou deixando transparecer. É como se guardasse aquilo para mim, com medo de machucar a mim e aos outros. E cá estou eu falando de sentimentos outra vez, que babaquice. Poderia falar sobre tantas coisas em meus textinhos vagabundos, mas sempre que vejo me pego no flagra falando sobre sentimentos e sobre minha opinião sobre isso ou aquilo. É um tanto egocêntrico, muito egocêntrico pra falar a verdade, mas não me sinto tão culpado por isso. Não vejo muita graça em escrever sobre outras pessoas, embora acredite que existem motivos em que isso é muito prazeroso e bem vindo. Creio que a maioria dos escritores escreve sobre si mesmo e para si mesmo, e aqueles que não fazem isso tornam-se gigolôs da literatura, vendendo seu talento com as palavras para romantizar histórias de quem pagar mais. Se bem que pensando nisso agora vejo que o jornalismo talvez seja a maior dessas prostituições, e pasmem, eu fazendo essas críticas e estudando jornalismo. Acho que o melhor mesmo seria não julgar ninguém como eu costumo fazer, e o que me faz melhor. Não creio que toda forma de julgamento alheia seja necessariamente maldosa. Acho muitas pessoas realmente chatas, a grande maioria na verdade, mas não me importo em destratá-las ou qualquer coisa assim. Só tento com o máximo de dedicação ficar o mais afastado possível delas para que elas não me chateiem ainda mais. Infelizmente isso é impossível. Em qualquer lugar que vou tem sempre alguém que me chateia bastante. Tento pensar que isso é só a vida como ela é. Em qualquer lugar do mundo e em qualquer tempo da história.
Ás vezes tenho uma impressão (pra ser mais sincero um sonho) de que um dia alguém (não só alguém, muitas pessoas no meu sonho) vai ler essas coisas e se identificar e realmente gostar, e quem sabe até mesmo sentir a mesma coisa que eu sinto em relação ao Fante, ao Salinger, ao Buk, ao Burroughs e a outros assim. Muito provavelmente essa seja talvez só mais uma das minhas viagens fantasiosas sobre a minha vida e meu futuro, mas em partes eu gosto de pensar assim. O único problema é que quando caio em si tenho um terrível sentimento de impotência e de inferioridade. Será que todos os escritores também passam ou já passaram por isso¿ É engraçado eu me colocar como um escritor. Geralmente eu nunca faria isso, e acho que só estou fazendo agora porque essa é uma divagação de mim comigo mesmo. Um tanto egocêntrica creio eu, mas não posso negar que me faz bem.
Pra ser bem sincero estou gostando um bocado desse texto. Um bocado não, talvez só um pouco, mas acho que provavelmente eu deva mostrá-lo para alguns poucos amigos e ver a opinião deles. Esse é outro problema bom e ruim. Preciso da opinião dos outros sobre os meus textos para me afirmar. Mesmo quando leio minhas próprias coisas e raramente acho alguma coisa fantástico ao ponto de duvidar por alguns instantes que eu tenha escrito aquilo por mim mesmo eu ainda me importo com o fato de se as outras pessoas vão achar tão bom quanto eu achei. Geralmente elas não acham. Não dizem isso com estas palavras, mas o fato de se omitirem é claro para mim de que o texto não passou de mais umas linhas lidas pra elas e de mais alguns minutos perdidos em suas vidas. As poucas coisas que escrevi que tiveram algumas críticas positivas foram relatos depressivos e textos de sentimentalismo barato. É outra coisa que já tentei me curar, mas depois de um tempo percebi que é impossível parar de sentir. Depois de perceber isso comecei a tentar direcionar meus sentimentos para outras coisas. Não digo outras fontes de expressão, porque escrever é talvez a única coisa que eu gosto de fazer. Se talvez eu tocasse violão provavelmente faria algumas baladas sentimentais do estilo Ryan Adams. Pra falar a verdade eu até arrisco escrever algumas músicas, e então me junto com meu amigo Hermano e fazendo sons com a boca e usando outras músicas relativamente parecidas como comparativo peço para ele ir fazendo a melodia assim e assado até chegarmos num consenso do melhor para a música. Funcionou algumas vezes. Fizemos uma meia dúzia de músicas assim, umas duas ou três realmente boas eu acho.
Também queria entender o fato de eu me apaixonar e desapaixonar tão fácil das garotas em geral. Tem dias em que penso em determinada garota com grande freqüência e intensidade mas dois ou três dias depois é como se um encanto houvesse passado e ela fosse como todas as outras. Já me peguei ficando apaixonado por garotas que vejo na rua e que nunca mais verei novamente, ou até mesmo por garotas que vejo com freqüência e nunca tinha pensado algo a mais até aquele momento. E depois passa. E outras vêm. E tudo continua a mesma coisa, na grande maioria das vezes (acredite, a grande maioria mesmo) eu nem ficando com elas e nem falando sobre o que sinto ou deixando transparecer. É como se guardasse aquilo para mim, com medo de machucar a mim e aos outros. E cá estou eu falando de sentimentos outra vez, que babaquice. Poderia falar sobre tantas coisas em meus textinhos vagabundos, mas sempre que vejo me pego no flagra falando sobre sentimentos e sobre minha opinião sobre isso ou aquilo. É um tanto egocêntrico, muito egocêntrico pra falar a verdade, mas não me sinto tão culpado por isso. Não vejo muita graça em escrever sobre outras pessoas, embora acredite que existem motivos em que isso é muito prazeroso e bem vindo. Creio que a maioria dos escritores escreve sobre si mesmo e para si mesmo, e aqueles que não fazem isso tornam-se gigolôs da literatura, vendendo seu talento com as palavras para romantizar histórias de quem pagar mais. Se bem que pensando nisso agora vejo que o jornalismo talvez seja a maior dessas prostituições, e pasmem, eu fazendo essas críticas e estudando jornalismo. Acho que o melhor mesmo seria não julgar ninguém como eu costumo fazer, e o que me faz melhor. Não creio que toda forma de julgamento alheia seja necessariamente maldosa. Acho muitas pessoas realmente chatas, a grande maioria na verdade, mas não me importo em destratá-las ou qualquer coisa assim. Só tento com o máximo de dedicação ficar o mais afastado possível delas para que elas não me chateiem ainda mais. Infelizmente isso é impossível. Em qualquer lugar que vou tem sempre alguém que me chateia bastante. Tento pensar que isso é só a vida como ela é. Em qualquer lugar do mundo e em qualquer tempo da história.
12 de Abril de 2008 - 03:02
Estou no meu quarto de pensão, ouvindo o Rock N’ Roll do Ryan Adams e fumando um cigarro e posso garantir que essa é a melhor coisa que eu poderia estar fazendo nessa madrugada de sexta. I’m as lonely as boys, who as lonely for girls. Ontem na porta do show dos Dolls eu e os caras estávamos comentado e alguns de nós afirmaram que Ryan é seu maior ídolo vivo. Eu não tenho dúvidas disso. Tirando o Thunders e o Fante ele talvez seja meu maior ídolo. Não sei muito bem dessas coisas de ídolos. Eles estão lá como santos em meu altar mas nunca se sabe como eles são realmente. Eu estou ali admirando o artista e crendo que a pessoa também seja da mesma genialidade, coisa que eu talvez jamais venha a saber. No caso do Fante e do Thunders nunca vou saber mesmo. É um tanto estranho. Penso nos caras diariamente na minha vida. Estabeleci uma relação de cumplicidade e amor com eles e nunca sei como seria do outro lado. Deve ser um bocado duro esse negócio de ser um artista talentoso. Pelo menos nisso eu tive sorte de ser um escritor de merda. Pelo menos por enquanto.
9 de Abril de 2008 – 23:02
A Avenida Paulista está em obras, e você pode imaginar como fica a avenida mais movimentada do país quando suas calçadas estão em obras. Para o tráfego dos pedestres eles deixaram pequenos espaços isolados com fitas entre as calçadas e as caminhadas por ali ficaram muito mais demoradas. Confirmei isso hoje quando fui da minha casa aqui na altura da Joaquim Eugênio de Lima até a Augusta para comprar o ingresso do show dos New York dolls para um amigo. Se o trânsito em São Paulo sempre foi caótico, agora os pedestres também podem sentir isso na pele. O pior de tudo não são nem as obras, que desconfiadamente eu sei que são para o bem da cidade, mas sim a velocidade de pessoas que impõe seu ritmo lerdo de andar e fazem com que em algumas horas você simplesmente arraste os pés e ande a 2 km por hora como se estivesse em uma passeata ou coisa parecida. A maioria das pessoas tem pressa. São Paulo não para. Todos têm sempre que fazer alguma coisa. Eu sou uma exceção. Salvo alguns trabalhos da faculdade e coisas tipo o que fui fazer hoje eu levo uma vidinha bem tranqüila na Paulicéia, mas isso não significa que eu não queira chegar rápido aos meus destinos. Eu sempre andei rápido e pretendo continuar assim. Já estou um pouco acostumado com passos largos e velozes e freqüentemente quando estou caminhando com algumas pessoas elas me pedem para que eu diminua a velocidade.
9 de Abril de 2008 – 23:01
Salvo as bitucas de cigarro estou indo muito bem na minha política de não jogar lixo na rua. Nisso incluem-se os papéis de bala e notas fiscais de qualquer coisa que eu vivo achando nos meus bolsos quando chego em casa.
05 de Abril de 2008 – 01:50
Well there’s a little bit of whore in every little girl. Puta que pariu. Puta que pariu. Se algum dia nascer alguém igual Johnny Thunders me avisem porque eu provavelmente já vou estar debaixo da terra. Eu tava há um tempo sem esse cara nos meus, e continuo estando praticamente sem, porque desde que mudei aqui pra São Paulo pro meu quartinho de pensão que vive quente (mesmo que o tempo lá fora esteja bem frio, como hoje, talvez por causa do cigarro) eu estou só com umas pouquíssimas músicas e felizmente um amigo me passou algumas pela internet e little bit of whore que sempre foi uma das minhas preferidas foi uma delas. Agora to ouvindo Let Go e puta que pariu mais uma vez. Eu dispenso comentários pra alguém assim. Por mais que eu tente eu não vou lembrar da primeira vez que eu ouvi thunders, mas eu lembro que ao longo da minha adolescência (que eu acho que ainda não acabou, afinal, tenho 18 anos e em inglês ainda é eighteen) esse cara mexeu comigo de uma forma incrivelmente espetacular. Algumas minas passaram pela minha vida com ajuda ou influência dele, uma delas marcou, mas eu não me importo mesmo porque agora eu estou aqui e começo a pensar que com algo no estomago, alguns cigarros, uma garrafa de vinho, um bom filme (como o que eu vi hoje, o clássico singing in the rain) e Johnny Thunders pra ouvir eu estarei realmente FELIZ mesmo, pra caralho, de modo que eu não sei explica e só queria vestir minha camisa do LAMF e colocar um chapéu e abrir meu guarda-chuva e ficar aqui deitado na minha cama de cuecas e pedir que alguém tirasse umas fotos assim, com minha garrafa de vinho ainda inteira ou pela metade ou com quantidade suficiente pra dar uns goles e dar uns tragos no cigarro e uou! É isso aí.
Friday, April 04, 2008
04 de Abril de 2008 – 06:15
Dia desses fui a casa de uma amiga escritora e ela me perguntou se eu andava escrevendo. Eu disse que sim e que não conseguia viver sem escrever. – Consegue sim. Ela retrucou. Parei pra pensar sobre isso um tempo depois e comprendi que ela tem razão. Cheguei a essa conclusão agora a pouco quando parei pra pensar em como tinha sobrevivido até que aprendesse a ler e escrever, e como tinha transformado isso em algo diferente pra mim.Eu não, eu realmente não sei. Talvez eu seja um mentiroso por natureza. Talvez eu seja só um iludido. Que tipo de louco fica pensando nisso ás 06:16 da manhã de uma sexta sem ainda ter dormido¿ Eu com certeza sou um desses. Eu estou sempre pensando em algumas coisas desse tipo, quando não em coisas piores. Talvez eu deva procurar um psiquiatra. Essa é uma possibilidade que eu já venha deslumbrando há algum tempo mas que ainda não consegui tomar a iniciativa. Talvez eu deva arrumar um emprego e continuar fazendo as mesmas coisas que eu faço no resto do dia. Ou talvez eu deva esperar que Deus me ilumine e faça com que tudo fique bem. Isso seria maravilhoso.
03 de Abril de 2008 - 18:38
Não sei o que me da mais raiva. Se é pagar 20 reais pra uma costureira grossa e mal educada fazer um ajuste em uma calça e ela ainda fizer errado, se é ser enganado por uma propaganda enganosa de uma empresa de telefonia móvel sem vergonha e assinar um contrato para uma internet com velocidade de 1mb e só conseguir ter conexões de no máximo 100kbps, ou seja, 10% do prometido, ou se é ficar quase duas horas no atendimento por telefone da mesma empresa e ainda ouvir do atendente a resposta de que o departamento jurídico deles já esta preparado a minha ameaça de processo.
03 de Abril de 2008 – 18:33
Uma coisa que me irrita são as velhinhas que ficam na parte do sacolão do supermercado Extra da Brigadeiro Luiz Antonio andando pra lá e pra com seus carrinhos em uma velocidade extremamente lenta, atrapalhando todo o tráfego de quem quer passar por ali e chegar até a lanchonete para almoçar ou jantar e escolhendo as frutas e legumes com olhar clínico e demorado. E se por acaso você esbarra sem querer numa delas ou num de seus carrinhos te olham com um olhar ameaçador esperando para que você peça desculpas ou algo do tipo. Não tenho nada contra velhos, existem alguns até muito simpáticos e creio que devemos muito do que temos hoje a eles, mas não da pra negar que existem alguns que são muito chatos. Também existem muitos jovens chatos, mas felizmente eles ainda não chegaram a idade de andar com seus carrinhos em lentidão profunda e bloquearem o tráfego pelos corredores do supermercado.
3 de Abril de 2008 – 18:28
Saí da loja da Claro da avenida Paulista onde estava resolvendo uns problemas da porcaria da Internet G3 que fiz a cagada de assinar e a chuva caia sobre São Paulo, como quase sempre na terra da garoa. O grande problema era que eu não tinha um guarda chuva, e apesar de minha casa ficar só a três quadras dali eu previ que chegaria ensopado. Pra minha sorte um vendedor ambulante anunciava seus guarda-chuvas logo na frente da loja.
- Quanto custa?
- O grande é 10 e o pequeno é 5.
Pedi pra ver o pequeno. Abriu o guarda chuva e o analisei por alguns instantes. Por 5 reais pode-se prever que seria dos mais vagabundos, e realmente era, mas resolvi comprar mesmo assim. Saí dali com o guarda-chuva já aberto e atravessei a avenida Paulista. No canteiro enquanto esperava o sinal fechar a chuva aumentou. O guarda-chuva vagabundo me salvava. Os carros se enfileiravam e como sempre acontece em São Paulo nos dias de chuva o trânsito da avenida Paulista sentido Consolação começava a ficar caótico. Buzinaço, carros devagar com homens de terno e gravata e mulheres de roupa social falando ao celular. Moto-boys com suas botas e capa de chuva pretos passavam achando brechas entre os carros e levando vantagem no trânsito infernal. Atravessei a rua e ao lado do Mc Donalds entrei na Joaquim Eugênio de Lima. A chuva caia e fazia estalos no pano vagabundo de meu recém comprado guarda-chuva. Olhei ao redor e vi todas as pessoas andando pra lá e pra cá com seus guarda-chuvas. Algumas de capa de chuva. Como elas sabiam que ia chover? Pareciam preparadas para algum dilúvio. É de se esperar que os paulistanos andem sempre esperando que um toró caia sobre suas cabeças a qualquer hora do dia ou da noite. As pouquíssimas pessoas que não tinham guarda-chuva se protegiam embaixo de uma banca de jornal e de uma marquise de hotel. Continuei caminhando abaixo. Na rua seguinte virei a esquerda na Alameda Ribeirão Preto. Mais alguns passos e cheguei na frente da pensão onde moro. A senhoria também estava chegando por ali com seu guarda-chuva rosa. Ela parecia sempre estar ali na frente, ou andando ali por perto, ou limpando a casa lá dentro. Era um tanto onipresente. Todos os dias em que eu saia encontrava com ela em algum lugar das redondezas. Ás vezes andava uma ou duas quadras e encontrava ela voltando pra casa ou indo pra algum outro lugar. Me cumprimentava com um sorriso e eu respondia com um – Olá Dona Santina.
Cheguei em meu quarto e sentei na cama. Acendi um cigarro e fiquei olhando para o teto e para as paredes por um tempo.
- Quanto custa?
- O grande é 10 e o pequeno é 5.
Pedi pra ver o pequeno. Abriu o guarda chuva e o analisei por alguns instantes. Por 5 reais pode-se prever que seria dos mais vagabundos, e realmente era, mas resolvi comprar mesmo assim. Saí dali com o guarda-chuva já aberto e atravessei a avenida Paulista. No canteiro enquanto esperava o sinal fechar a chuva aumentou. O guarda-chuva vagabundo me salvava. Os carros se enfileiravam e como sempre acontece em São Paulo nos dias de chuva o trânsito da avenida Paulista sentido Consolação começava a ficar caótico. Buzinaço, carros devagar com homens de terno e gravata e mulheres de roupa social falando ao celular. Moto-boys com suas botas e capa de chuva pretos passavam achando brechas entre os carros e levando vantagem no trânsito infernal. Atravessei a rua e ao lado do Mc Donalds entrei na Joaquim Eugênio de Lima. A chuva caia e fazia estalos no pano vagabundo de meu recém comprado guarda-chuva. Olhei ao redor e vi todas as pessoas andando pra lá e pra cá com seus guarda-chuvas. Algumas de capa de chuva. Como elas sabiam que ia chover? Pareciam preparadas para algum dilúvio. É de se esperar que os paulistanos andem sempre esperando que um toró caia sobre suas cabeças a qualquer hora do dia ou da noite. As pouquíssimas pessoas que não tinham guarda-chuva se protegiam embaixo de uma banca de jornal e de uma marquise de hotel. Continuei caminhando abaixo. Na rua seguinte virei a esquerda na Alameda Ribeirão Preto. Mais alguns passos e cheguei na frente da pensão onde moro. A senhoria também estava chegando por ali com seu guarda-chuva rosa. Ela parecia sempre estar ali na frente, ou andando ali por perto, ou limpando a casa lá dentro. Era um tanto onipresente. Todos os dias em que eu saia encontrava com ela em algum lugar das redondezas. Ás vezes andava uma ou duas quadras e encontrava ela voltando pra casa ou indo pra algum outro lugar. Me cumprimentava com um sorriso e eu respondia com um – Olá Dona Santina.
Cheguei em meu quarto e sentei na cama. Acendi um cigarro e fiquei olhando para o teto e para as paredes por um tempo.
Monday, March 31, 2008
Notas - 30/04/08
23:04
Oh que merda. Tenho uma garrafa de água aqui em meu quarto da pensão, a qual eu comprei já há umas duas ou três semanas, e depois disso venho enchendo-a regularmente no filtro da cozinha e agora quando fui enchê-la novamente pois estava com uma sede realmente considerável percebi que sua borda esta com sujeiras de aspecto realmente ruim. Nunca fui de ter frescuras com essas coisas mas essa sujeira na água me pegou desprevenido. Acho que amanhã depois de ir tirar o dinheiro no banco comprarei uma garrafa nova.
23:10
Depois que retirar esse dinheiro que meu pai me mandou quero ficar um bom tempo sem comer cachorro-quente.
23:11
Não sei porque motivo, mas o teclado do meu notebook no word não consegue emitir pontos de interrogação corretos e freqüentemente enquanto digito alguma coisa com rapidez sou obrigado a parar pois automaticamente ele pula para alguma linha já escrita e tudo o que eu estou digitando atropela algo que eu digitei antes e me faz ter que parar para arrumar e acabo por perder o ritmo e a velocidade do texto. É uma verdadeira merda.
23:15
Dia desses uma garota da minha sala na faculdade me disse que sou ranzinza. Ela não falou isso em um tom de ofensa ou algo parecido, mas me fez pensar um pouco e acho que ela tem razão. Sou chato pra caralho e de certa forma gosto de ser assim. Odeio pessoas felizes.
23:17
Trecho de uma música de um disco do Jonathan Richman e dos Modern Lovers:. “If you don’t think Paris is made for love, give Paris one more chance.”
23:19
Para ser sincero estou gostando de fazer essas notinhas rápidas há cada dois minutos.
23:20
Só pra reiterar que Speed of Sound do Chris Bell é incrivelmente linda.
23:21
Vou parar por aqui. Essa brincadeira já perdeu a graça.
Oh que merda. Tenho uma garrafa de água aqui em meu quarto da pensão, a qual eu comprei já há umas duas ou três semanas, e depois disso venho enchendo-a regularmente no filtro da cozinha e agora quando fui enchê-la novamente pois estava com uma sede realmente considerável percebi que sua borda esta com sujeiras de aspecto realmente ruim. Nunca fui de ter frescuras com essas coisas mas essa sujeira na água me pegou desprevenido. Acho que amanhã depois de ir tirar o dinheiro no banco comprarei uma garrafa nova.
23:10
Depois que retirar esse dinheiro que meu pai me mandou quero ficar um bom tempo sem comer cachorro-quente.
23:11
Não sei porque motivo, mas o teclado do meu notebook no word não consegue emitir pontos de interrogação corretos e freqüentemente enquanto digito alguma coisa com rapidez sou obrigado a parar pois automaticamente ele pula para alguma linha já escrita e tudo o que eu estou digitando atropela algo que eu digitei antes e me faz ter que parar para arrumar e acabo por perder o ritmo e a velocidade do texto. É uma verdadeira merda.
23:15
Dia desses uma garota da minha sala na faculdade me disse que sou ranzinza. Ela não falou isso em um tom de ofensa ou algo parecido, mas me fez pensar um pouco e acho que ela tem razão. Sou chato pra caralho e de certa forma gosto de ser assim. Odeio pessoas felizes.
23:17
Trecho de uma música de um disco do Jonathan Richman e dos Modern Lovers:. “If you don’t think Paris is made for love, give Paris one more chance.”
23:19
Para ser sincero estou gostando de fazer essas notinhas rápidas há cada dois minutos.
23:20
Só pra reiterar que Speed of Sound do Chris Bell é incrivelmente linda.
23:21
Vou parar por aqui. Essa brincadeira já perdeu a graça.
30 de Março de 2008 – 22:42
Página em branco. Bela maneira para começar um texto. É um longo processo. Você precisa atravessar todo esse espaço e preenchê-lo de forma que todas essas palavras em cores pretas ou azuis ou vermelhas ou qualquer outra que você preferir formem algo interessante que alguém vai ler e vai gostar ou que você vai apenas guardar pra si mesmo e ler daqui há 5, 10, 20 ou 30 anos e rir de suas divagações idiotas e exclamar sobre como você era assim ou assado na juventude e pensar no que você terá se tornado até então.
É um tanto estranho. Estava pensando sobre meu final de semana. Se olhar por um lado posso tirar uma certa conclusão e defini-lo como um bom final de semana. Por outro lado posso ter uma visão pessimista e olhar só as coisas ruins, que é o que eu costumo fazer quase sempre. De todo modo, creio que tenha sido um bom final de semana, com as devidas restrições que os meus dias devem ter para serem considerados bons. O que quero dizer, veja bem, é que quando digo que tive um dia bom estou dizendo em outras palavras que foi um dia com menos coisas ruins e menos tormentos em minha cabeça do que os outros. Não creio que tenha tido algum dia realmente bom nos últimos tempos, mas não me importo muito com isso. Dia após dia eu junto meus tijolos e construo minhas paredes ao meu redor (para me cercar da presença infame da maioria das pessoas) e assim a vida segue.
Acho que seria justo fazer um pequeno relato de meu final de semana. Tive uma boa sexta feira, acho que os acontecimentos desta última sexta-feira merecem ser relatados em um conto em prosa quando eu estiver mais inspirado nesse sentido. Posso dizer que conheci uma garota que fez com que eu me sentisse bem como nenhuma garota conseguiu fazer a muito tempo, que fiquei embriagado e fui assim para a aula e fiquei lá me sentindo estranho como as pessoas que estão bêbadas nos lugares que não deveriam estar se sentem. Depois disso fui pegar um dinheiro emprestado na casa de uma amiga, e lá encontrei o namorado dela que eu já conhecia do último reveillon onde passamos a virada bêbados até que os fogos me dessem conta de que estávamos no ano novo e não dei muita bola para aquilo, porque aquele tinha sido um péssimo ano e gostaria que ele fosse embora justamente como tinha chego, sorrateiramente, mas esse é um assunto para outro papo. De todo modo o que eu vinha dizendo é que ficamos lá pela casa dele bebendo umas cervejas e fumando uns cigarros, e ouvindo Ray Charles, Dylan e conversando (em uma das conversas fiz a besteira de dizer sobre minha idéia de que 80% dos políticos são ladrões e descobri que o pai dele era vereador em uma cidadezinha no mato grosso do sul) e acabei emborcando algumas doses de vodka com guaraná que ele tinha por lá e quando percebi já estava bêbado novamente. Saí de lá pelas cinco da manhã e depois parei pra comer um lanche num lugar aqui perto. Quando cheguei em casa, já as seis creio eu, me dei conta que meu caderno não estava mais comigo. Agora eu não consigo me lembrar se deixei o caderno na casa dele ou na lanchonete. Pensei em ligar pra essa minha amiga pra pegar o telefone dele e perguntar isso mas meu cartão telefônico tem 3 unidades e não acho que conseguiria manter uma ligação decente assim. O aspecto financeiro tem sido um pouco difícil nesses últimos dias, mas falei com meu pai logo mais e ele estará mandando uma quantia boa para mim amanhã, de certo modo a maior parte do dinheiro já esta comprometido com alguns compromissos como cortar o cabelo, comprar um tênis novo, comprar um modem para ter acesso a Internet, pagar o dinheiro que peguei emprestado com essa amiga e comer ao longo da semana. O grande problema é que ele quer que eu mantenha esse dinheiro por um mês e creio que isso será impossível. Devo pensar nisso quando estiver com o dinheiro em mãos. Economizar de alguma forma. Quem sabe comer menos, ou não comer. Posso me virar com algumas poucas refeições e com meus cigarros e cervejas. Foi o que fiz nos últimos dias. Quando a fome apertava era só acender um cigarro ou comer os biscoitos que mantenho aqui há algum tempo ou os restos do chocolate do ovo de páscoa que meu pai me deu.
Não estou como sono, e nem preciso ir dormir, mas também não tenho o que fazer. Não me sinto animado para ler. Preciso tomar água. Acho que vou fazer isso.
É um tanto estranho. Estava pensando sobre meu final de semana. Se olhar por um lado posso tirar uma certa conclusão e defini-lo como um bom final de semana. Por outro lado posso ter uma visão pessimista e olhar só as coisas ruins, que é o que eu costumo fazer quase sempre. De todo modo, creio que tenha sido um bom final de semana, com as devidas restrições que os meus dias devem ter para serem considerados bons. O que quero dizer, veja bem, é que quando digo que tive um dia bom estou dizendo em outras palavras que foi um dia com menos coisas ruins e menos tormentos em minha cabeça do que os outros. Não creio que tenha tido algum dia realmente bom nos últimos tempos, mas não me importo muito com isso. Dia após dia eu junto meus tijolos e construo minhas paredes ao meu redor (para me cercar da presença infame da maioria das pessoas) e assim a vida segue.
Acho que seria justo fazer um pequeno relato de meu final de semana. Tive uma boa sexta feira, acho que os acontecimentos desta última sexta-feira merecem ser relatados em um conto em prosa quando eu estiver mais inspirado nesse sentido. Posso dizer que conheci uma garota que fez com que eu me sentisse bem como nenhuma garota conseguiu fazer a muito tempo, que fiquei embriagado e fui assim para a aula e fiquei lá me sentindo estranho como as pessoas que estão bêbadas nos lugares que não deveriam estar se sentem. Depois disso fui pegar um dinheiro emprestado na casa de uma amiga, e lá encontrei o namorado dela que eu já conhecia do último reveillon onde passamos a virada bêbados até que os fogos me dessem conta de que estávamos no ano novo e não dei muita bola para aquilo, porque aquele tinha sido um péssimo ano e gostaria que ele fosse embora justamente como tinha chego, sorrateiramente, mas esse é um assunto para outro papo. De todo modo o que eu vinha dizendo é que ficamos lá pela casa dele bebendo umas cervejas e fumando uns cigarros, e ouvindo Ray Charles, Dylan e conversando (em uma das conversas fiz a besteira de dizer sobre minha idéia de que 80% dos políticos são ladrões e descobri que o pai dele era vereador em uma cidadezinha no mato grosso do sul) e acabei emborcando algumas doses de vodka com guaraná que ele tinha por lá e quando percebi já estava bêbado novamente. Saí de lá pelas cinco da manhã e depois parei pra comer um lanche num lugar aqui perto. Quando cheguei em casa, já as seis creio eu, me dei conta que meu caderno não estava mais comigo. Agora eu não consigo me lembrar se deixei o caderno na casa dele ou na lanchonete. Pensei em ligar pra essa minha amiga pra pegar o telefone dele e perguntar isso mas meu cartão telefônico tem 3 unidades e não acho que conseguiria manter uma ligação decente assim. O aspecto financeiro tem sido um pouco difícil nesses últimos dias, mas falei com meu pai logo mais e ele estará mandando uma quantia boa para mim amanhã, de certo modo a maior parte do dinheiro já esta comprometido com alguns compromissos como cortar o cabelo, comprar um tênis novo, comprar um modem para ter acesso a Internet, pagar o dinheiro que peguei emprestado com essa amiga e comer ao longo da semana. O grande problema é que ele quer que eu mantenha esse dinheiro por um mês e creio que isso será impossível. Devo pensar nisso quando estiver com o dinheiro em mãos. Economizar de alguma forma. Quem sabe comer menos, ou não comer. Posso me virar com algumas poucas refeições e com meus cigarros e cervejas. Foi o que fiz nos últimos dias. Quando a fome apertava era só acender um cigarro ou comer os biscoitos que mantenho aqui há algum tempo ou os restos do chocolate do ovo de páscoa que meu pai me deu.
Não estou como sono, e nem preciso ir dormir, mas também não tenho o que fazer. Não me sinto animado para ler. Preciso tomar água. Acho que vou fazer isso.
29 de março de 2008 – 22:43
Estou aqui, no sábado a noite sentado na minha cama no meu quarto de pensão ouvindo os Smiths e curtindo o fim de uma ressaca um tanto quanto considerável e pensando em uma garota que conheci ontem mesmo e que é um arraso. Não vou me estender no assunto, não estou muito a fim de falar sobre isso agora, mas confesso que seria ótimo se ela me ligasse e me chamasse pra cair em algum bar ali perto da Augusta e a gente pudesse ficar juntos bebendo cerveja e fumando cigarros e eu mostraria meus textos pra ela e depois me envergonharia e ficaria constrangido pela pobreza e dramaticidade dos meus escritos, mas ela passaria a mão na minha cabeça e diria que eu escrevo muito bem e que sou um baita escritor e todas essas coisas que eu ia gostar de ouvir e me sentir mais feliz.
Mas voltando ao assunto, acordei com uma certa ressaca um tanto quanto estranha e nem ao menos sei o porque disso, tendo em conta que não bebi muito ontem (pelo menos não o tanto suficiente para me deixar com uma ressaca que me derrubasse como aconteceu) mas creio que talvez seja pelo fato de ter tomado algumas doses de vodka com guaraná e eu sei bem que não posso com essa bebida, que é talvez a única bebida que eu não goste e não deva tomar, mas quando já havia bebido um monte ela apareceu na minha frente e aí não tinha como negar. De qualquer forma eu estou melhorando. Exceto o fato de que estou com muito calor (penso que agora deveria ligar o ventilador e deixar o texto de lado por alguns segundos, e é exatamente isso que vou fazer). Ok, ventilador ligado na velocidade 1 e se o calor persistir aumentarei para a 2 e posteriormente para a 3. Um grande problema desse ventilador, ou da energia dessa casa e mais exatamente do meu quarto é que não sei por quais motivos quando o notebook e o ventilador estão ligados ao mesmo tempo (o que é bastante freqüente) o ventilador, em qualquer velocidade que estiver faz um barulho muito maior do que o normal, como se girasse com mais violência e funcionasse com algum tipo de raiva por ter que dividir a energia com o computador. Eu devo estar pirando, esse raciocínio foi talvez uma das maiores besteiras que eu já ouvi.
Eu volto a pensar na garota, de certo modo ela esta um tanto quanto presa a minha cabeça, pelo menos hoje está. E aí eu começo a pensar, aqui comigo mesmo, o que ela deve estar fazendo agora¿ Talvez bebendo e fumando, ou trepando, ou vendo algum programa ruim na televisão, ou comendo os restos do almoço comprado em algum restaurante que vende massas e assados, ou talvez ela esta jantando em algum restaurante legal na companhia de umas pessoas. Vai lá saber. O certo é que eu gostaria de saber, mas agora não tem como. Tudo bem, eu supero isso. Os efeitos da ressaca estão passando e penso que talvez seria legal esticar até ali e comprar umas latinhas e ficar aqui com minhas cervejas e meus cigarrinh-o-o-os, mas reflito por alguns segundos e concluo que não estou nem um pouco a fim de fumar hoje. De beber sim, essa é uma vontade praticamente constante na minha vida, tirando os momentos em que acabo de acordar e que a ressaca esta acentuada eu penso que beber sempre seria muito bom. Gostaria de ser William Burroughs também. Depois que li o Junky penso nesse cara com bastante freqüência. Até peguei o cut-up filmes pra assistir, mas é um filme muito muito doido. Por falar em filmes, essa tem sido minha grande ajuda pra fugir do tédio do meu quartinho de pensão sem televisão e Internet e telefone e qualquer coisa assim. De todo modo ainda me sobra meu notebook, e ele roda dvd, então nos últimos dias eu me dediquei fielmente a assistir muitos filmes, e posso dizer que tive o prazer de escolher alguns clássicos que me valeram as horas assistidas. Full Metal Jacket, Jackie Brown, Cotton Club, Henry e June e mais dois filmes do Andy Warhol (meio pirados, diga-se de passagem) e que eu me lembre foram esses os últimos filmes que assisti. Ah, esqueci também do American Grafitti e da continuação, More American Grafitti, que me agradaram bastante também (especialmente em relação a trilha sonora). Deus do céu, esse texto está virando um lixo. Tenho que confessar que no começo achei que ele pudesse terminar como alguma coisa boa mas agora vejo que estou completamente enganado. A literatura precisa ser trabalhada, é o que as pessoas dizem, mas eu só consigo me sentar e escrever esses textos de merda. Não faz mal, não me importo, não vejo mal nisso, não vejo mal em nada.
Acho que seria interessante relatar aqui que mudei a trilha sonora para This land is your land do Woody Guthrie. Também acho que seria interessante relatar que apesar de estar com calor, agora que liguei o ventilador na velocidade mínima começo a sentir um certo frio, mas estou suado embaixo de meus braços e com um sentimento térmico um tanto quanto estranho. Isso não é novidade, eu sempre fico em dúvida sobre qualquer coisa. Se quero ou não deixar o ventilador ligado, se devo ou não tomar um café, se durmo de bruços ou de costas, se bebo cerveja da marca x ou da y, e por aí vai.
*Nota do escritor: Mudei a trilha sonora novamente. Agora estou ouvindo Charlie “Bird” Parker e espero ouvir algumas músicas desse gênio do jazz. Falando em jazz dia desses andando pela Augusta comprei de um daqueles caras que montam bancas e vendem livros um sobre jazz em inglês por 10 reais. Bela aquisição. Tenho a certeza de que comprar livros e discos são os melhores investimentos que posso fazer. Excetuando é claro a bebida, que tem uma certa necessidade, porque pra agüentar o tanto de pessoas chatas que somos obrigados a agüentar dia após dia só bebendo sua cervejinha ou vinhozinho ou uísque ou qualquer coisa que você preferir. Vale ressaltar que não me refiro a uma pessoa em especial (se bem que algumas mereciam ser citadas por serem seres de extrema chatice e inconveniência que me deixam com vontade de pular em seus pescoços e arrebentar suas caras com murros na boca e no nariz) mas sim a todas as pessoas que sou obrigado a tolerar no dia a dia e todas as coisas chatérrimas que elas tem a me dizer e perguntas sem graça que elas tem a me fazer. Eu gostaria muito de que todas as pessoas pudessem ter seus animais de estimação e aí pentelhassem os pobres coitados gatos, cachorros e passarinhos em vez de encher o ouvido das pessoas com tanta asneira. É um caso sério. Creio que eu também seja um verdadeiro chato, mas não fico procurando ouvidos alheios para despejar minhas divagações. Gostaria de dizer também que não sou contra a conversa, longe de mim, acho que algumas são incrivelmente interessantes e proveitosas, desde que feitas com as pessoas certas e sobre os assuntos certos e os mais simples possíveis de preferência. Não gosto de conversas intelectuais ou de discussões político-religiosas. Alem de serem de uma chatice enorme não sinto o menor prazer em tentar levantar minhas convicções e argumentos para convencer tal pessoa de que ela deve pensar assim ao invés de assado. Prefiro que elas pensem como quiserem e que eu fique aqui com minhas idéias e de certo modo só ouvir quem a meu julgamento pessoal valer a pena.
Que monólogo entediante virou esse texto. É meio ruim o fato de 85% das coisas que eu escrevo terminarem com reclamações ou lamentos sobre qualquer coisa. Talvez eu deva começar a achar outra ocupação ao invés de escrever. Quem sabe jogar paciência ou tetris ou qualquer outra coisa em que eu possa fazer sozinho.
Mas voltando ao assunto, acordei com uma certa ressaca um tanto quanto estranha e nem ao menos sei o porque disso, tendo em conta que não bebi muito ontem (pelo menos não o tanto suficiente para me deixar com uma ressaca que me derrubasse como aconteceu) mas creio que talvez seja pelo fato de ter tomado algumas doses de vodka com guaraná e eu sei bem que não posso com essa bebida, que é talvez a única bebida que eu não goste e não deva tomar, mas quando já havia bebido um monte ela apareceu na minha frente e aí não tinha como negar. De qualquer forma eu estou melhorando. Exceto o fato de que estou com muito calor (penso que agora deveria ligar o ventilador e deixar o texto de lado por alguns segundos, e é exatamente isso que vou fazer). Ok, ventilador ligado na velocidade 1 e se o calor persistir aumentarei para a 2 e posteriormente para a 3. Um grande problema desse ventilador, ou da energia dessa casa e mais exatamente do meu quarto é que não sei por quais motivos quando o notebook e o ventilador estão ligados ao mesmo tempo (o que é bastante freqüente) o ventilador, em qualquer velocidade que estiver faz um barulho muito maior do que o normal, como se girasse com mais violência e funcionasse com algum tipo de raiva por ter que dividir a energia com o computador. Eu devo estar pirando, esse raciocínio foi talvez uma das maiores besteiras que eu já ouvi.
Eu volto a pensar na garota, de certo modo ela esta um tanto quanto presa a minha cabeça, pelo menos hoje está. E aí eu começo a pensar, aqui comigo mesmo, o que ela deve estar fazendo agora¿ Talvez bebendo e fumando, ou trepando, ou vendo algum programa ruim na televisão, ou comendo os restos do almoço comprado em algum restaurante que vende massas e assados, ou talvez ela esta jantando em algum restaurante legal na companhia de umas pessoas. Vai lá saber. O certo é que eu gostaria de saber, mas agora não tem como. Tudo bem, eu supero isso. Os efeitos da ressaca estão passando e penso que talvez seria legal esticar até ali e comprar umas latinhas e ficar aqui com minhas cervejas e meus cigarrinh-o-o-os, mas reflito por alguns segundos e concluo que não estou nem um pouco a fim de fumar hoje. De beber sim, essa é uma vontade praticamente constante na minha vida, tirando os momentos em que acabo de acordar e que a ressaca esta acentuada eu penso que beber sempre seria muito bom. Gostaria de ser William Burroughs também. Depois que li o Junky penso nesse cara com bastante freqüência. Até peguei o cut-up filmes pra assistir, mas é um filme muito muito doido. Por falar em filmes, essa tem sido minha grande ajuda pra fugir do tédio do meu quartinho de pensão sem televisão e Internet e telefone e qualquer coisa assim. De todo modo ainda me sobra meu notebook, e ele roda dvd, então nos últimos dias eu me dediquei fielmente a assistir muitos filmes, e posso dizer que tive o prazer de escolher alguns clássicos que me valeram as horas assistidas. Full Metal Jacket, Jackie Brown, Cotton Club, Henry e June e mais dois filmes do Andy Warhol (meio pirados, diga-se de passagem) e que eu me lembre foram esses os últimos filmes que assisti. Ah, esqueci também do American Grafitti e da continuação, More American Grafitti, que me agradaram bastante também (especialmente em relação a trilha sonora). Deus do céu, esse texto está virando um lixo. Tenho que confessar que no começo achei que ele pudesse terminar como alguma coisa boa mas agora vejo que estou completamente enganado. A literatura precisa ser trabalhada, é o que as pessoas dizem, mas eu só consigo me sentar e escrever esses textos de merda. Não faz mal, não me importo, não vejo mal nisso, não vejo mal em nada.
Acho que seria interessante relatar aqui que mudei a trilha sonora para This land is your land do Woody Guthrie. Também acho que seria interessante relatar que apesar de estar com calor, agora que liguei o ventilador na velocidade mínima começo a sentir um certo frio, mas estou suado embaixo de meus braços e com um sentimento térmico um tanto quanto estranho. Isso não é novidade, eu sempre fico em dúvida sobre qualquer coisa. Se quero ou não deixar o ventilador ligado, se devo ou não tomar um café, se durmo de bruços ou de costas, se bebo cerveja da marca x ou da y, e por aí vai.
*Nota do escritor: Mudei a trilha sonora novamente. Agora estou ouvindo Charlie “Bird” Parker e espero ouvir algumas músicas desse gênio do jazz. Falando em jazz dia desses andando pela Augusta comprei de um daqueles caras que montam bancas e vendem livros um sobre jazz em inglês por 10 reais. Bela aquisição. Tenho a certeza de que comprar livros e discos são os melhores investimentos que posso fazer. Excetuando é claro a bebida, que tem uma certa necessidade, porque pra agüentar o tanto de pessoas chatas que somos obrigados a agüentar dia após dia só bebendo sua cervejinha ou vinhozinho ou uísque ou qualquer coisa que você preferir. Vale ressaltar que não me refiro a uma pessoa em especial (se bem que algumas mereciam ser citadas por serem seres de extrema chatice e inconveniência que me deixam com vontade de pular em seus pescoços e arrebentar suas caras com murros na boca e no nariz) mas sim a todas as pessoas que sou obrigado a tolerar no dia a dia e todas as coisas chatérrimas que elas tem a me dizer e perguntas sem graça que elas tem a me fazer. Eu gostaria muito de que todas as pessoas pudessem ter seus animais de estimação e aí pentelhassem os pobres coitados gatos, cachorros e passarinhos em vez de encher o ouvido das pessoas com tanta asneira. É um caso sério. Creio que eu também seja um verdadeiro chato, mas não fico procurando ouvidos alheios para despejar minhas divagações. Gostaria de dizer também que não sou contra a conversa, longe de mim, acho que algumas são incrivelmente interessantes e proveitosas, desde que feitas com as pessoas certas e sobre os assuntos certos e os mais simples possíveis de preferência. Não gosto de conversas intelectuais ou de discussões político-religiosas. Alem de serem de uma chatice enorme não sinto o menor prazer em tentar levantar minhas convicções e argumentos para convencer tal pessoa de que ela deve pensar assim ao invés de assado. Prefiro que elas pensem como quiserem e que eu fique aqui com minhas idéias e de certo modo só ouvir quem a meu julgamento pessoal valer a pena.
Que monólogo entediante virou esse texto. É meio ruim o fato de 85% das coisas que eu escrevo terminarem com reclamações ou lamentos sobre qualquer coisa. Talvez eu deva começar a achar outra ocupação ao invés de escrever. Quem sabe jogar paciência ou tetris ou qualquer outra coisa em que eu possa fazer sozinho.
Monday, March 24, 2008
13/03/08 - 14:58
Estou andando pela avenida Paulista enquanto uma chuva rala cai sobre a cidade de São Paulo e centenas de pessoas passam sobre mim com seus guarda-chuvas e olhando mais de cima com a cabeça empinada posso ver centenas de guarda-chuvas se movendo em todas as direções com pessoas anônimas debaixo deles. São Paulo fica boniota quando chove. São Paulo fica caótica quando chove.
Atravesso um quarteirão da Paulista cantando It's cold outside dos (esqueci o nome da banda agora) mas penso na versão do Stiv Bators que me agrada mais.
Desço a esquerda na Joaquim Eugênio de Lima e tenho vontade de acender um cigarro, mas não o faço pois seria inútil acende-lo e deixar que a chuva o apague e o estrague logo depois. Na quadra de baixo um rapaz passa a minha frente correndo para não se molhar. Eu ando com calma e sinto a chuva fria me molhar aos poucos. Na quadra seguinte pego à esquerda novamente e estou na alameda Ribeirão Preto. A chuva aumenta e mudo meu repertório para La la la lies do The Who.
Vejo o rapaz de duas quadras atrás ainda correndo. Entro na segunda à direita e também arrisco aumentar a velocidade. Logo estou correndo e saltando tentando sincronizar o ritmo dos passos com La la la lies que ainda toca na minha cabeça.
Chego à casa simples que é a pensão onde moro desde os últimos três dias e onde devo morar por tempo indeterminado. A senhoria esta na porta e com um sorriso pergunta se vim correndo. Ela me acompanha até meu quarto, que fica no andar de baixo da casa. Chegamos ao quarto número 12, saco a chave e abro a porta. O quarto esta uma bagunça como sempre foi em todos os quartos qeu tive. Pago o que devo a ela e me seco com a toalha de banho. Abro o caderno e começo a escrever. Não gosto de escrever a mão. Trovões e o barulho da chuva lá fora. Acendo um cigarro e termino.
Atravesso um quarteirão da Paulista cantando It's cold outside dos (esqueci o nome da banda agora) mas penso na versão do Stiv Bators que me agrada mais.
Desço a esquerda na Joaquim Eugênio de Lima e tenho vontade de acender um cigarro, mas não o faço pois seria inútil acende-lo e deixar que a chuva o apague e o estrague logo depois. Na quadra de baixo um rapaz passa a minha frente correndo para não se molhar. Eu ando com calma e sinto a chuva fria me molhar aos poucos. Na quadra seguinte pego à esquerda novamente e estou na alameda Ribeirão Preto. A chuva aumenta e mudo meu repertório para La la la lies do The Who.
Vejo o rapaz de duas quadras atrás ainda correndo. Entro na segunda à direita e também arrisco aumentar a velocidade. Logo estou correndo e saltando tentando sincronizar o ritmo dos passos com La la la lies que ainda toca na minha cabeça.
Chego à casa simples que é a pensão onde moro desde os últimos três dias e onde devo morar por tempo indeterminado. A senhoria esta na porta e com um sorriso pergunta se vim correndo. Ela me acompanha até meu quarto, que fica no andar de baixo da casa. Chegamos ao quarto número 12, saco a chave e abro a porta. O quarto esta uma bagunça como sempre foi em todos os quartos qeu tive. Pago o que devo a ela e me seco com a toalha de banho. Abro o caderno e começo a escrever. Não gosto de escrever a mão. Trovões e o barulho da chuva lá fora. Acendo um cigarro e termino.
Friday, March 14, 2008
Tuesday, March 11, 2008
Mais um bêbado em mais um bar
Mais um bêbado em mais um bar, é isso que eu sou. Perdido entre garrafas vazias e copos sujos e bitucas de ciarro, pensando na vida e discutindo futebol ou outra banalidades com outros bêbados solitários que se tornam companhias temporarias pelo tempo que a cerveja durar ou que o saco aguentar.Gosto dos bares mais vazios, dos botequins mais baratos e dos lugares em que se pode sentar no balcão sem ser importunado por qualquer coisa.
19/02/2008 - 23:12
Saindo da aula, caminhei com um colega até a estação de metrô. Ele sugeriu de andarmos até o bar onde os estudantes se reunem. Perguntei se ele queria beber, pois é isso que eu faço nos bares e é pra isso que eu vou até eles. Mas ele, contradizendo meu raciocínio disse que queria ver se tinha alguém por lá para socializar. Que coisa mais sem graça. Porque as pessoas tem que socializar? É tão ridículo e inútil. Não vejo mal em fazer amigos, mas também não vejo a mínima graça em socializar.Prefiro ficar comigo mesmo, com um copo de bebida e meu cigarro. Talvez alguns amigos, poucos. Não gosto de pessoas sociais.
Textos da minha vida
Um monte de textos da minha vida
se perderam no passado
sem jamais serem escritos
um monte de outros textos da minha vida
me esperam no futuro
esperando para serem escritos
se perderam no passado
sem jamais serem escritos
um monte de outros textos da minha vida
me esperam no futuro
esperando para serem escritos
Monday, August 20, 2007
Voltando da aula.
Saí da aula e desci até a avenida leste-oeste onde passei por um travesti que fazia ponto na esquina esperando algum cliente para aquela noite. Andei até o ponto de ônibus e parei enquanto esperava. Um casal que fazia cursinho comigo estavam se beijando por ali. Tive inveja daquilo, pareciam muito felizes.
Tinha que voltar de ônibus porque o carro de minha mãe estava no conserto. Não gostava de andar de ônibus. Não me importava caminhar mas pegar o ônibus era algo realmente estressante, principalmente porque o ônibus que vinha até minha casa demorava muito tempo para chegar. Pelo menos hoje eu tinha o livro do maravilhoso Fante para me distrair.
Cheguei ao terminal e fiquei esperando enquanto lia os capítulos de “O caminho de Los Angeles”. O ônibus que ia para meu bairro antes passava em um pequeno terminal e havia outro ônibus que ia direto a este terminal, e a maioria das pessoas estava pegando esse. Resolvi que seria melhor também pegá-lo e ficar esperando meu ônibus lá no pequeno terminal. Talvez ele chegasse mais rápido. Então subi e fui e quando cheguei estava fazendo um frio suficiente para fazer meus braços descobertos se arrepiarem e me fazer torcer para o ônibus chegar o quanto antes, enquanto lia página atrás de página do livro que era realmente muito bom e tentava aquecer os braços esfregando as mãos neles.
Olhei para as pessoas em volta. A maioria delas estava bem agasalhada. Outros nem tanto. Deviam provavelmente ter trabalhado o dia todo e deviam estar exaustos para chegar em sua casa e dormir o sono dos justos. Um senhor de cadeira de rodas estava acompanhado por uma senhora, talvez sua esposa ou irmã. O ônibus deles chegou e era um dos ônibus mais antigos que não tinha o pequeno elevador responsável por facilitar a vida dos deficientes e ele teve que se virar e subir com uma bengala e a ajuda de um outro homem que foi segurando e guiando o senhor da cadeira de rodas enquanto suas pernas tremiam numa frustrada tentativa do corpo de conseguir o equilíbrio. A mulher trazia a cadeira de rodas atrás e logo ele se instalou sentado em um dos bancos e o ônibus partiu.
Continuei lendo meu livro e morrendo de frio. Meu ônibus felizmente chegou e andou todos os pontos até o de minha casa. Uma moça meio gorda que também desceria ali ia apertar o botão que apitava e avisava ao motorista mas eu já estava com a mão para o alto e ela percebeu isso e me deixou puxar a corda que ficava no alto. Piiii! O sinal tocou e o ônibus parou no ponto que ficava duas quadras acima de minha casa. Eu e a moça gorda descemos e tomamos direções opostas, eu descendo e ela subindo. Pensei em Fante no pequeno caminho. Pensei em como ele escreveria nos dias atuais e em como eu faria isso.
Cheguei em casa e fui até a cozinha. No fogão haviam pedaços de frango empanados, arroz e salada de cenoura. Subi até o quarto de minha mãe e ela já estava deitada para dormir. Me falou que havia comida lá embaixo e lhe dei um beijo de boa noite. Fui até meu quarto e escrevi um pouco antes de ir comer.
Tinha que voltar de ônibus porque o carro de minha mãe estava no conserto. Não gostava de andar de ônibus. Não me importava caminhar mas pegar o ônibus era algo realmente estressante, principalmente porque o ônibus que vinha até minha casa demorava muito tempo para chegar. Pelo menos hoje eu tinha o livro do maravilhoso Fante para me distrair.
Cheguei ao terminal e fiquei esperando enquanto lia os capítulos de “O caminho de Los Angeles”. O ônibus que ia para meu bairro antes passava em um pequeno terminal e havia outro ônibus que ia direto a este terminal, e a maioria das pessoas estava pegando esse. Resolvi que seria melhor também pegá-lo e ficar esperando meu ônibus lá no pequeno terminal. Talvez ele chegasse mais rápido. Então subi e fui e quando cheguei estava fazendo um frio suficiente para fazer meus braços descobertos se arrepiarem e me fazer torcer para o ônibus chegar o quanto antes, enquanto lia página atrás de página do livro que era realmente muito bom e tentava aquecer os braços esfregando as mãos neles.
Olhei para as pessoas em volta. A maioria delas estava bem agasalhada. Outros nem tanto. Deviam provavelmente ter trabalhado o dia todo e deviam estar exaustos para chegar em sua casa e dormir o sono dos justos. Um senhor de cadeira de rodas estava acompanhado por uma senhora, talvez sua esposa ou irmã. O ônibus deles chegou e era um dos ônibus mais antigos que não tinha o pequeno elevador responsável por facilitar a vida dos deficientes e ele teve que se virar e subir com uma bengala e a ajuda de um outro homem que foi segurando e guiando o senhor da cadeira de rodas enquanto suas pernas tremiam numa frustrada tentativa do corpo de conseguir o equilíbrio. A mulher trazia a cadeira de rodas atrás e logo ele se instalou sentado em um dos bancos e o ônibus partiu.
Continuei lendo meu livro e morrendo de frio. Meu ônibus felizmente chegou e andou todos os pontos até o de minha casa. Uma moça meio gorda que também desceria ali ia apertar o botão que apitava e avisava ao motorista mas eu já estava com a mão para o alto e ela percebeu isso e me deixou puxar a corda que ficava no alto. Piiii! O sinal tocou e o ônibus parou no ponto que ficava duas quadras acima de minha casa. Eu e a moça gorda descemos e tomamos direções opostas, eu descendo e ela subindo. Pensei em Fante no pequeno caminho. Pensei em como ele escreveria nos dias atuais e em como eu faria isso.
Cheguei em casa e fui até a cozinha. No fogão haviam pedaços de frango empanados, arroz e salada de cenoura. Subi até o quarto de minha mãe e ela já estava deitada para dormir. Me falou que havia comida lá embaixo e lhe dei um beijo de boa noite. Fui até meu quarto e escrevi um pouco antes de ir comer.
Tuesday, August 14, 2007
Uma grande merda de programa
Fui com a minha mãe no dentista pra fazer limpeza nos dentes. Chegamos lá e aguardamos na sala de espera vendo um programa desses onde as pessoas vão resolver suas brigas e coisas do tipo. Uma mulher tinha casado com um ex-gay e a mãe dela não tinha gostado nada disso. Então eles estavam os três lá discutindo sobre o casamento da filha com o ex-gay, que mesmo que tivesse virado hetero ainda tinha o jeito de gay, principalmente pra falar.
Depois começou um quadro onde uma moça com uma voz chata narrava a história trágica que havia sido enviada por uma carta de alguma telespectadora enquanto apareciam cenas fictícias e mudas da história.
Essa era de uma moça que sempre tinha sido honesta e depois foi trabalhar na parte financeira de uma empresa e começou a roubar um monte. Um monte de lenga-lenga no meio da história. Uma grande merda de programa.
A secretária disse que o horário da consulta estava errado. Minha mãe confirmou ter marcado pra terça, mas ela disse que lá estava na quinta. Ficou um tempo nessa confusão mas como o consultório estava vazio o dentista disse que nos atenderia.
Entrei lá e sentei naquela cadeira reclinada. Ele enfiou um cano que era uma espécie de mini-aspirador na minha boca e ficava sugando tudo. Depois me deu um espelho na mão pra ficar olhando a boca e ficou passando um jato de um líquido que fazia a limpeza.
Era um negócio muito foda, ele passava o jato e o dente ficava brilhando de branco na mesma hora.
Eu fiquei lá com o espelho na mão que aos poucos foi ficando encharcado do líquido que espirrava da minha boca. Não demorou quase nada e ele terminou. Depois atendeu minha mãe enquanto eu ficava na sala de espera vendo mais um pedaço do programa de barracos. Uma grande merda de programa.
Depois começou um quadro onde uma moça com uma voz chata narrava a história trágica que havia sido enviada por uma carta de alguma telespectadora enquanto apareciam cenas fictícias e mudas da história.
Essa era de uma moça que sempre tinha sido honesta e depois foi trabalhar na parte financeira de uma empresa e começou a roubar um monte. Um monte de lenga-lenga no meio da história. Uma grande merda de programa.
A secretária disse que o horário da consulta estava errado. Minha mãe confirmou ter marcado pra terça, mas ela disse que lá estava na quinta. Ficou um tempo nessa confusão mas como o consultório estava vazio o dentista disse que nos atenderia.
Entrei lá e sentei naquela cadeira reclinada. Ele enfiou um cano que era uma espécie de mini-aspirador na minha boca e ficava sugando tudo. Depois me deu um espelho na mão pra ficar olhando a boca e ficou passando um jato de um líquido que fazia a limpeza.
Era um negócio muito foda, ele passava o jato e o dente ficava brilhando de branco na mesma hora.
Eu fiquei lá com o espelho na mão que aos poucos foi ficando encharcado do líquido que espirrava da minha boca. Não demorou quase nada e ele terminou. Depois atendeu minha mãe enquanto eu ficava na sala de espera vendo mais um pedaço do programa de barracos. Uma grande merda de programa.
Thursday, August 02, 2007
Eu só preciso de um pouco de companhia
Ou talvez só precise ficar sozinho
Preciso andar numas ruas desconhecidas, e ver coisas diferentes
Me perder entre calçadas e sarjetas com uma garrafa de vinho
Preciso beber com pessoas que nunca vi antes
Falar sobre coisas que não fazem parte do meu mundo
Na verdade das verdades mesmo eu não sei do que preciso
E enquanto não sei de nada disso só vou vivendo por ai
Ou talvez só precise ficar sozinho
Preciso andar numas ruas desconhecidas, e ver coisas diferentes
Me perder entre calçadas e sarjetas com uma garrafa de vinho
Preciso beber com pessoas que nunca vi antes
Falar sobre coisas que não fazem parte do meu mundo
Na verdade das verdades mesmo eu não sei do que preciso
E enquanto não sei de nada disso só vou vivendo por ai
Sunday, July 29, 2007
Era uma noite de sábado de julho realmente fria em que eu estava deveras cansado e tinha decidido ficar em casa, até um amigo me ligar.
- Alô
- Vamos pruma festa ai?
- Que festa é essa?
- Na casa de uma menina, ela mandou chamar todo mundo que quiser. Só precisa levar bebida.
- Po meu, eu to zerado de grana.
- Relaxa, eu compro bebida pra gente levar.
- Ta. Beleza.
Desliguei e me arrependi de ter dito que ia logo depois. Estava cansado pra valer, não tinha um puto no bolso e do jeito que dois mais dois são quatro esse negócio de levar as bebidas ia dar algum rolo. Estava sem grana até pra voltar de ônibus. Liguei de volta pra dizer que tinha desistido mas ninguém atendia. Liguei pra outro amigo e pedi pra ele dizer que eu não ia.
Então voltei para minhas músicas. Era uma noite de sábado em casa mas eu me sentia realmente bem. Tinha Lou Reed no rádio, pizza na mesa, alguns filmes para assistir e algumas latas de cerveja na geladeira. Também tinha uns três cigarros que haviam sobrado da noite passado. Eu não costumava fumar, mas na última noite da sexta para o sábado resolvi comprar um maço e fumei quase inteiro.
Então fiquei um tempo ali no meu quarto ouvindo a música e tomando as latas de cerveja. O “Sally can’t Dance” do Lou Reed soava muito bem. Eram uns momentos assim em que você percebia que o cara era um gênio. Depois ouvi algumas faixas do “Berlin” e parte do “December’s Children” dos Stones. Acabei com as cervejas e com os cigarros também.
Assisti um dos filmes e não gostei. Não gostava muito de filmes e dificilmente saberia responder se me perguntassem qual era o meu favorito. Todo esse lance de cinema também não era comigo. Geralmente não gostava dos finais, eles geralmente estragavam todo o resto do filme por melhor que fosse, salvo algumas raras exceções. Raríssimas aliás.
Voltei pro meu quarto. Já passavam das cinco da manhã. Li um pouco do “Notas de um velho safado” do Bukowski e fui dormir.
- Alô
- Vamos pruma festa ai?
- Que festa é essa?
- Na casa de uma menina, ela mandou chamar todo mundo que quiser. Só precisa levar bebida.
- Po meu, eu to zerado de grana.
- Relaxa, eu compro bebida pra gente levar.
- Ta. Beleza.
Desliguei e me arrependi de ter dito que ia logo depois. Estava cansado pra valer, não tinha um puto no bolso e do jeito que dois mais dois são quatro esse negócio de levar as bebidas ia dar algum rolo. Estava sem grana até pra voltar de ônibus. Liguei de volta pra dizer que tinha desistido mas ninguém atendia. Liguei pra outro amigo e pedi pra ele dizer que eu não ia.
Então voltei para minhas músicas. Era uma noite de sábado em casa mas eu me sentia realmente bem. Tinha Lou Reed no rádio, pizza na mesa, alguns filmes para assistir e algumas latas de cerveja na geladeira. Também tinha uns três cigarros que haviam sobrado da noite passado. Eu não costumava fumar, mas na última noite da sexta para o sábado resolvi comprar um maço e fumei quase inteiro.
Então fiquei um tempo ali no meu quarto ouvindo a música e tomando as latas de cerveja. O “Sally can’t Dance” do Lou Reed soava muito bem. Eram uns momentos assim em que você percebia que o cara era um gênio. Depois ouvi algumas faixas do “Berlin” e parte do “December’s Children” dos Stones. Acabei com as cervejas e com os cigarros também.
Assisti um dos filmes e não gostei. Não gostava muito de filmes e dificilmente saberia responder se me perguntassem qual era o meu favorito. Todo esse lance de cinema também não era comigo. Geralmente não gostava dos finais, eles geralmente estragavam todo o resto do filme por melhor que fosse, salvo algumas raras exceções. Raríssimas aliás.
Voltei pro meu quarto. Já passavam das cinco da manhã. Li um pouco do “Notas de um velho safado” do Bukowski e fui dormir.
Sunday, July 15, 2007
Que a vida comece
Eu quero que esses anos passem logo. Que essa adolescência vá embora e leve com ela todos esses problemas ridículos e todas essas preocupações desgraçadas.
Ninguém se importa com você, ninguém jamais vai se importar com você fora você mesmo, e ai é a parte difícil. Eu não consigo dar a mínima pra mim. Eu não ligo para o que vai me acontecer no futuro, por isso eu quero que esses anos vão embora o quanto antes.
Então os leve daqui e me deixe em paz, eu vou ficar bem, eu vou ficar bem, eu não vou ficar bem.
Mas isso também não é da sua conta, nem mesmo da minha. Eu estou caído por ai, não tente me levantar, eu agradeço sua boa vontade, mas eu preciso fazer isso sozinho.
Eu preciso que isso acabe, que tudo acabe, que algo acabe, que algo comece, que a vida comece.
Ninguém se importa com você, ninguém jamais vai se importar com você fora você mesmo, e ai é a parte difícil. Eu não consigo dar a mínima pra mim. Eu não ligo para o que vai me acontecer no futuro, por isso eu quero que esses anos vão embora o quanto antes.
Então os leve daqui e me deixe em paz, eu vou ficar bem, eu vou ficar bem, eu não vou ficar bem.
Mas isso também não é da sua conta, nem mesmo da minha. Eu estou caído por ai, não tente me levantar, eu agradeço sua boa vontade, mas eu preciso fazer isso sozinho.
Eu preciso que isso acabe, que tudo acabe, que algo acabe, que algo comece, que a vida comece.
Thursday, July 12, 2007
Nas sombras
Queria ter algo pra me orgulhar, ou algo pra lutar, ou alguma força de vontade pra correr atrás das coisas e depois me sentir alguém importante e feliz por ter feito algo. Mas tudo sempre fica na mesma. Eu vou ficar sempre aqui sem fazer nada e as coisas vão continuar desanimadas e sem graça como sempre foram e como provavelmente sempre vão ser.
Eu vou de mal a pior, e quando eu falo isso não é da boca pra fora. Eu sempre tive esse espírito de decadência e sempre achei que nada fosse dar certo. Sou um pessimista convicto de que nada vai mudar, mas no fundo minha alma grita para que algo mude e me faça ter vontade de viver, para que algo me anime e me faça ser alguém, para que algo me deixe realmente feliz e que eu tenha motivos para caminhar por ai com um sorriso nos lábios.
Cansei de viver nas sombras, mas não tenho coragem de procurar a luz.
Eu vou de mal a pior, e quando eu falo isso não é da boca pra fora. Eu sempre tive esse espírito de decadência e sempre achei que nada fosse dar certo. Sou um pessimista convicto de que nada vai mudar, mas no fundo minha alma grita para que algo mude e me faça ter vontade de viver, para que algo me anime e me faça ser alguém, para que algo me deixe realmente feliz e que eu tenha motivos para caminhar por ai com um sorriso nos lábios.
Cansei de viver nas sombras, mas não tenho coragem de procurar a luz.
Thursday, June 28, 2007
E só isso.
Eu preciso de um pouco de paz
E só isso.
Eu preciso que me deixem sossegado, que me esqueçam
Que vão viver suas vidas e me deixem lamentar a minha
Eu preciso de um motivo pra viver
E só isso.
E só isso.
Eu preciso que me deixem sossegado, que me esqueçam
Que vão viver suas vidas e me deixem lamentar a minha
Eu preciso de um motivo pra viver
E só isso.
Wednesday, June 13, 2007
Sempre igual
Sunday, June 10, 2007
Cortando o cabelo.
Quarta feira passada eu fui cortar o cabelo. As melhores vezes em que cortei o cabelo na minha vida foram em salões caros, mas como meu pai é totalmente contra gastar qualquer dinheiro a mais em corte e como mantenho uma freqüência de cortar o cabelo a cada mês e meio, fui no barbeiro que ele corta a muitos e muitos anos, no centro comercial de Londrina.
Ele estava ocupado então cortei com o filho dele. Sentei na cadeira giratória e ele colocou aquela espécie de roupão esquisito pra não cair cabelo nas roupas em mim.
Desde pequeno eu tenho trauma de cortar cabelo. Era um dia maldito para mim. Principalmente porque eu nunca gostava do resultado e detestava a reação de surpresa das pessoas da escola com quem eu tinha que conviver todo dia.
Eu realmente odiava chegar na escola pela manhã e ouvir a mais insolente das perguntas várias vezes ao dia: - Você cortou o cabelo? – Não, tirei pra lavar. Era o que eu geralmente respondia, tirada clássica que eu aprendi ouvindo as pessoas falarem e depois lendo um pocket-book da Mad que comprei numa liquidação do Carrefour chamado “respostas cretinas para perguntas imbecis” e que eram várias situações com perguntas imbecis, e obviamente respostas cretinas. Um dos capítulos se chamava “cortadas ferinas para respostas cretinas de perguntas imbecis” e que era basicamente a mesma coisa da idéia original do livro, mas dessa vez com uma réplica para a pessoa que havia feito a pergunta imbecil dando uma cortada ferina. Todas essas bem engraçadas, era de rolar de rir. Quero achar esse livro, mas provavelmente eu perdi.
De todo modo mostrei a foto do Keith Richards para ele e disse pra cortar igual. Eu sabia que não ia ficar igual, primeiro porque meu cabelo jamais ficaria igual ao dele e segundo porque o cabeleireiro apesar de ser bom não pareceu entender muito bem o corte.
Mas o que realmente me preocupou foi que o cabeleireiro era careca. Totalmente careca. Pareceu a mesma coisa que ir a um dentista banguela, ou a um fisioterapeuta paralítico. Ok, eu estou realmente exagerando. Guardada as devidas proporções eu fiquei um pouco preocupado. Mas o que realmente me deixou frustrado em cortar o cabelo foi ter que ficar olhando para mim mesmo no espelho durante todo o tempo. Experimente fazer isso um dia, é algo realmente desconfortável ficar vendo sua imagem durante 15 ou 20 minutos. Tinha uma Tv do meu lado superior esquerdo e eu tentava incessantemente girar meus olhos sem virar a cabeça para não ter a orelha retalhada e virar um Van Gogh sem pintar porra nenhuma.
Então ele terminou de cortar. E ficou bom. Não ficou ótimo, mas ele não comprometeu, então pra mim já estava perfeito. Se eu saísse do cabeleireiro sem reclamar já era um ótimo progresso e ele ganhava alguma confiança comigo.
Me despedi e sai da barbearia. Andei um pouco ali por perto e encontrei o Hermano perto de onde tínhamos combinado. Gostei quando ele disse que tinha ficado bom, foi confortante pra minha insegurança pós-corte.Depois meu pai viu e perguntou – Você não cortou nada?
Melhor assim, discreto.
Ele estava ocupado então cortei com o filho dele. Sentei na cadeira giratória e ele colocou aquela espécie de roupão esquisito pra não cair cabelo nas roupas em mim.
Desde pequeno eu tenho trauma de cortar cabelo. Era um dia maldito para mim. Principalmente porque eu nunca gostava do resultado e detestava a reação de surpresa das pessoas da escola com quem eu tinha que conviver todo dia.
Eu realmente odiava chegar na escola pela manhã e ouvir a mais insolente das perguntas várias vezes ao dia: - Você cortou o cabelo? – Não, tirei pra lavar. Era o que eu geralmente respondia, tirada clássica que eu aprendi ouvindo as pessoas falarem e depois lendo um pocket-book da Mad que comprei numa liquidação do Carrefour chamado “respostas cretinas para perguntas imbecis” e que eram várias situações com perguntas imbecis, e obviamente respostas cretinas. Um dos capítulos se chamava “cortadas ferinas para respostas cretinas de perguntas imbecis” e que era basicamente a mesma coisa da idéia original do livro, mas dessa vez com uma réplica para a pessoa que havia feito a pergunta imbecil dando uma cortada ferina. Todas essas bem engraçadas, era de rolar de rir. Quero achar esse livro, mas provavelmente eu perdi.
De todo modo mostrei a foto do Keith Richards para ele e disse pra cortar igual. Eu sabia que não ia ficar igual, primeiro porque meu cabelo jamais ficaria igual ao dele e segundo porque o cabeleireiro apesar de ser bom não pareceu entender muito bem o corte.
Mas o que realmente me preocupou foi que o cabeleireiro era careca. Totalmente careca. Pareceu a mesma coisa que ir a um dentista banguela, ou a um fisioterapeuta paralítico. Ok, eu estou realmente exagerando. Guardada as devidas proporções eu fiquei um pouco preocupado. Mas o que realmente me deixou frustrado em cortar o cabelo foi ter que ficar olhando para mim mesmo no espelho durante todo o tempo. Experimente fazer isso um dia, é algo realmente desconfortável ficar vendo sua imagem durante 15 ou 20 minutos. Tinha uma Tv do meu lado superior esquerdo e eu tentava incessantemente girar meus olhos sem virar a cabeça para não ter a orelha retalhada e virar um Van Gogh sem pintar porra nenhuma.
Então ele terminou de cortar. E ficou bom. Não ficou ótimo, mas ele não comprometeu, então pra mim já estava perfeito. Se eu saísse do cabeleireiro sem reclamar já era um ótimo progresso e ele ganhava alguma confiança comigo.
Me despedi e sai da barbearia. Andei um pouco ali por perto e encontrei o Hermano perto de onde tínhamos combinado. Gostei quando ele disse que tinha ficado bom, foi confortante pra minha insegurança pós-corte.Depois meu pai viu e perguntou – Você não cortou nada?
Melhor assim, discreto.
Thursday, May 10, 2007
Feriado do dia do trabalho de um desocupado.
O feriado foi ofuscado por uma ressaca leve de uma bebedeira no dia anterior e por um desânimo típico de um domingo em plena terça feira. Feriado do dia do trabalhador. Em muitos lugares do país trabalhadores faziam protestos e festas por esse dia. Eu não trabalhava e mal estudava, portanto era um dia como outro qualquer.
Convenci meu pai a pegarmos pizza e filmes a noite. Filmes alemães muito bons (coisas que só fui descobrir em casa) e pizza da “Pizza Hut”. Preço um pouco alto mas a qualidade indiscutível. Meia corn e bacon e meia pepperoni. Com direito a borda recheada de cheddar em virtude de que o tipo de massa que havíamos pedido primeiramente já havia acabado, assim a atendente ofereceu a borda de cheddar sem preço adicional. De graça, free.
Então a quarta-feira com cara de segunda. Acordei depois do meio dia, como um desocupado que se preze. Almocei um pedaço de pizza amanhecida da noite anterior. A fome voltou e fiz lingüiças no grill. Sentei a mesa que ficava do lado de fora da casa e o vento bateu em meu rosto e senti que aquela era a melhor vida que eu podia levar no futuro.
Meu pai não estava em casa. Mas sua secretária e a diarista estavam. Peguei três latas de cerveja da geladeira e coloquei disfarçadamente no freezer do lado de fora. Fiquei lá comendo lingüiça e bebendo cerveja. Matei duas latas. Estava perto da hora do ônibus passar e precisava tomar um banho. Amassei as latas e coloquei bem escondidas na lixeira. Peguei a lata que havia sobrado e segui até o banheiro da suíte do meu pai. Tranquei a porta do quarto e liguei a televisão. Os canais estavam chiando e quase todos pegando mal. Uma televisão temperamental. Tomei a cerveja, amassei a lata e tomei banho.
Me arrumei e segui até o ponto de ônibus na frente do condomínio de residências. Senhoras, provavelmente empregadas domésticas que trabalhavam no condomínio conversavam: - Meu irmão esta com água no pulmão. Ele tem que fazer uma cirurgia onde enfiam um cano pelo nariz para tirar. (...) A conversa prosseguiu entre doenças e hospitais:
- A filha da minha vizinha é enfermeira e ela falou que chega a chorar direto. – Deve ser difícil né? – E é. Ela diz que sempre vê as “pessoa” morre na frente dela e que sempre o que morre de bebê recém nascido não é brincadeira, coisa triste. – É horrível essas coisas, eu num guentaria “trabaia” em hospital não! – Nem eu menina, é pesado o negocio!
Sentei no banco de concreto e fiquei lendo meu livro (A sangue frio de Truman Capote) enquanto elas conversavam em alto tom de voz atrás de mim. As telhas que formavam a proteção acima do ponto de ônibus deviam servir apenas para chuvas, o local era exatamente aonde o sol batia mais forte e refletia em meu rosto.
O ônibus chegou e todos subiram. Estava vazio e escolhi um lugar onde não batesse sol para me sentar. Estes lugares eram os bancos ao lado direito do ônibus. Certa vez neste mesmo ônibus havia sentado ao lado esquerdo e o sol havia pairado sobre minha cabeça durante todo o trajeto. Mergulhei no livro e a cada parada do ônibus abria os olhos e estava em um lugar diferente, onde eu nunca havia visto ou estado. Apenas em um deles eu tive uma breve recordação de já ter passado por lá, de ônibus também.
Depois de rodar os distritos e condomínios da região chegamos ao pequeno terminal do shopping center de Londrina. Desci e fui até o bebedouro. A água quase não saia e havia de se fazer muito esforço para tomar alguns goles. O ônibus que iria até o terminal principal chegou e subimos. Rapidamente estava lotado e a cada parada mais e mais pessoas se amontoavam dentro. Eu havia conseguido um lugar sentado e alternava momentos entre ler e olhar a cidade pela janela. Em uma das paradas o ônibus já estava lotado e um senhor queria entrar. Bateu forte na porta principal como se estivesse batendo na casa de alguém mas o motorista não abriu. Haviam pessoas praticamente saindo pelas janelas e todas elas se amontoavam em pequenos espaços. Quem estava sentado permanecia confortavelmente imune a toda essa lotação física. O motorista abriu a porta de trás e o homem subiu e se ajeitou até achar um lugar onde pudesse se firmar.
Chegamos ao terminal e eu estava em dúvida se iria para casa ou se iria até a biblioteca pública renovar o empréstimo do livro. Havia saído as pressas pois achava que era o dia máximo para devolver ou renovar o livro, mas descobri no ponto de ônibus que este prazo se estendia até a sexta feira, dois dias alem. Como eu teria que sair de casa para ir até o colégio na sexta poderia passar lá. Então resolvi economizar dois reais e seguir direto para casa.
O ônibus demorou a chegar e uma considerável quantidade de pessoas se amontoou em frente aonde ele viria a parar. Quando chegou começou aquele processo de mini-caos onde as pessoas que estão dentro se apressam para sair e pegar seus ônibus para chegarem mais rápido em seus respectivos destinos e as que estavam fora se preparavam para iniciar uma batalha de entrada mais veloz ao veiculo e garantir um lugar sentado para chegar em suas casas e destinos confortavelmente.
Cheguei na casa de minha mãe e ela disse que não queria cozinhar. Pedimos pizza. Dessa vez da barata, de uma pizzaria a algumas quadras de casa. Sem problemas para mim. Pizza é de longe minha comida favorita. Dessa vez foi meia brócolis e meia milho.
E é isso ai.
Convenci meu pai a pegarmos pizza e filmes a noite. Filmes alemães muito bons (coisas que só fui descobrir em casa) e pizza da “Pizza Hut”. Preço um pouco alto mas a qualidade indiscutível. Meia corn e bacon e meia pepperoni. Com direito a borda recheada de cheddar em virtude de que o tipo de massa que havíamos pedido primeiramente já havia acabado, assim a atendente ofereceu a borda de cheddar sem preço adicional. De graça, free.
Então a quarta-feira com cara de segunda. Acordei depois do meio dia, como um desocupado que se preze. Almocei um pedaço de pizza amanhecida da noite anterior. A fome voltou e fiz lingüiças no grill. Sentei a mesa que ficava do lado de fora da casa e o vento bateu em meu rosto e senti que aquela era a melhor vida que eu podia levar no futuro.
Meu pai não estava em casa. Mas sua secretária e a diarista estavam. Peguei três latas de cerveja da geladeira e coloquei disfarçadamente no freezer do lado de fora. Fiquei lá comendo lingüiça e bebendo cerveja. Matei duas latas. Estava perto da hora do ônibus passar e precisava tomar um banho. Amassei as latas e coloquei bem escondidas na lixeira. Peguei a lata que havia sobrado e segui até o banheiro da suíte do meu pai. Tranquei a porta do quarto e liguei a televisão. Os canais estavam chiando e quase todos pegando mal. Uma televisão temperamental. Tomei a cerveja, amassei a lata e tomei banho.
Me arrumei e segui até o ponto de ônibus na frente do condomínio de residências. Senhoras, provavelmente empregadas domésticas que trabalhavam no condomínio conversavam: - Meu irmão esta com água no pulmão. Ele tem que fazer uma cirurgia onde enfiam um cano pelo nariz para tirar. (...) A conversa prosseguiu entre doenças e hospitais:
- A filha da minha vizinha é enfermeira e ela falou que chega a chorar direto. – Deve ser difícil né? – E é. Ela diz que sempre vê as “pessoa” morre na frente dela e que sempre o que morre de bebê recém nascido não é brincadeira, coisa triste. – É horrível essas coisas, eu num guentaria “trabaia” em hospital não! – Nem eu menina, é pesado o negocio!
Sentei no banco de concreto e fiquei lendo meu livro (A sangue frio de Truman Capote) enquanto elas conversavam em alto tom de voz atrás de mim. As telhas que formavam a proteção acima do ponto de ônibus deviam servir apenas para chuvas, o local era exatamente aonde o sol batia mais forte e refletia em meu rosto.
O ônibus chegou e todos subiram. Estava vazio e escolhi um lugar onde não batesse sol para me sentar. Estes lugares eram os bancos ao lado direito do ônibus. Certa vez neste mesmo ônibus havia sentado ao lado esquerdo e o sol havia pairado sobre minha cabeça durante todo o trajeto. Mergulhei no livro e a cada parada do ônibus abria os olhos e estava em um lugar diferente, onde eu nunca havia visto ou estado. Apenas em um deles eu tive uma breve recordação de já ter passado por lá, de ônibus também.
Depois de rodar os distritos e condomínios da região chegamos ao pequeno terminal do shopping center de Londrina. Desci e fui até o bebedouro. A água quase não saia e havia de se fazer muito esforço para tomar alguns goles. O ônibus que iria até o terminal principal chegou e subimos. Rapidamente estava lotado e a cada parada mais e mais pessoas se amontoavam dentro. Eu havia conseguido um lugar sentado e alternava momentos entre ler e olhar a cidade pela janela. Em uma das paradas o ônibus já estava lotado e um senhor queria entrar. Bateu forte na porta principal como se estivesse batendo na casa de alguém mas o motorista não abriu. Haviam pessoas praticamente saindo pelas janelas e todas elas se amontoavam em pequenos espaços. Quem estava sentado permanecia confortavelmente imune a toda essa lotação física. O motorista abriu a porta de trás e o homem subiu e se ajeitou até achar um lugar onde pudesse se firmar.
Chegamos ao terminal e eu estava em dúvida se iria para casa ou se iria até a biblioteca pública renovar o empréstimo do livro. Havia saído as pressas pois achava que era o dia máximo para devolver ou renovar o livro, mas descobri no ponto de ônibus que este prazo se estendia até a sexta feira, dois dias alem. Como eu teria que sair de casa para ir até o colégio na sexta poderia passar lá. Então resolvi economizar dois reais e seguir direto para casa.
O ônibus demorou a chegar e uma considerável quantidade de pessoas se amontoou em frente aonde ele viria a parar. Quando chegou começou aquele processo de mini-caos onde as pessoas que estão dentro se apressam para sair e pegar seus ônibus para chegarem mais rápido em seus respectivos destinos e as que estavam fora se preparavam para iniciar uma batalha de entrada mais veloz ao veiculo e garantir um lugar sentado para chegar em suas casas e destinos confortavelmente.
Cheguei na casa de minha mãe e ela disse que não queria cozinhar. Pedimos pizza. Dessa vez da barata, de uma pizzaria a algumas quadras de casa. Sem problemas para mim. Pizza é de longe minha comida favorita. Dessa vez foi meia brócolis e meia milho.
E é isso ai.
Mais um sábado a noite...
Mais um sábado a noite. Dia de sair e relaxar a cabeça cansada da semana inteira. No meu caso quebrar o tédio de uma semana de ócio como tem sido nos últimos tempos. Mas eu não podia me queixar. Lembrava do ano passado onde acordava todo dia as seis da matina e sofria na escola. Sem entender quase nada do que os professores diziam e dormindo aula após aula na carteira dura. Agora pelo menos eu podia dormir na minha cama todos os dias até uma da tarde. Foi como um amigo me disse: Quando você não faz nada quer fazer algo e quando faz algo não quer fazer nada. Mundo contraditório demais.
Mas voltando ao assunto se tratando de um sábado a noite estava louco para sair. Era começo do mês de abril de 2007 e aquele ano estava sendo realmente chato em questão de diversão. As noites de sextas e sábados pareciam todas iguais e sem graças. Liguei para o Hermano e ele estava no bar onde todos os conhecidos costumavam ir aos finais de semana.
Um bar pequeno e ordinário. Parecia que todos freqüentavam o local por falta de opção. Esse era exatamente o meu caso, mas que estava tentando mudar após o garçom que já me conhecia de muitas bebedeiras e longas contas invocou de me pedir identidade. Como menor de idade a única coisa que consegui dizer foi a velha desculpa do “esqueci em casa” que é claro ele não acreditou. O que me deixava realmente puto pois havia gastado boas partes das minhas mesadas no tal bar e muitos outros menores com caras de menores e mais novos que eu bebiam lá sem maiores problemas. Era no mínimo implicância comigo. Maldito garçom. Desejei do fundo da minha alma que ele fosse garçom até o final de sua vida e que em seus dias de folga chovessem incessantemente para o desgraçado nunca mais poder se divertir nessa vida. È o que chamam de rebeldia adolescente que eu sinto ter desde criança e que tem se estendido até hoje e que provavelmente deve continuar no futuro e até o fim da minha vida. Esse famoso espírito rebelde e rock and roll que foi eternizado por gente como James Dean, Elvis Presley e os Rolling Stones. Os Ramones também se encaixam perfeitamente nesse quesito. Conseguiram captar toda aquela áurea de rebeldia, sensibilidade e dúvida que tendemos a passar dos nossos doze aos vinte anos. Coisa que no meu caso aparentava que duraria até o resto da minha. Mas não me abalava nem um pouco. Os adolescentes que tentavam ser adultos e chamar os outros de criança realmente me irritavam. Esses sim eram uns cretinos. Vestidos em disfarces de moral tentavam dar lições de vida, a qual não tinham a mínima sabedoria, tentando dar uma impressão de experiência e causar um ar de respeito às outras vítimas da juventude contemporânea. Vítimas sim. Reféns dessa fase conturbada onde as garotas são o alvo principal e a inconseqüência é a marca registrada. Onde não usar drogas é ser careta e onde ler é perca de tempo para a maioria. Essa última por sinal era a única coisa que me irritava nessa geração. As poucas pessoas que gostavam de ler se apoiavam em autores como Shakespeare, Castro Alves, Carlos Drummond de Andrade entre outros e tentavam manter uma falsa aparência de maturidade. Não que esses caras não sejam brilhantes, eles realmente devem ser.Mas para mim não tem nada a ver com essa fase de espinhas na cara, bebidas na goela, beijos na boca e todas essas coisas que passamos. E pela qual eu estava profundamente mergulhado, afogado e bêbado. Se tem uma coisa que eu realmente nunca me familiarizei foi responsabilidade. Ela bate de frente com meu espírito outsider de liberdade. Preciso de alguém sempre pegando no meu pé para fazer as coisas, assim como Elvis tinha cel. Parker eu preciso de alguém pra ficar controlando meus horários e me lembrando dos compromissos por mais Chato que isso seja e que realmente é. Ou preciso conhecer as pessoas que conseguiram conciliar seu espírito de liberdade com suas tarefas diárias e tomar umas aulas de como ser responsável comigo mesmo. Seja responsável Gabriel. – É isso que meus pais e meus professores vivem me dizendo. Você precisa ter horários a cumprir e não fazer as coisas quando der na sua telha pois seu corpo já esta acostumado a vagabundagem. Foi isso que meu pai me disse e que eu posso concordar plenamente. Meu corpo e minha mente se acostumaram a preguiça. Quanto ao corpo eu não ligo muito, mas quando vejo minha mente afundada em meu próprio ócio sinto um desespero horrível.
Mas voltando ao assunto da noite de sábado liguei para o Hermano e lá ele estava no bar onde todos costumavam ir aos finais de semana. Tomei uma carona com meu pai e quando cheguei lá não havia nem sombra dele. Perguntei a um conhecido e ele disse que havia subido a rua há algum tempo. Subi pelo mesmo lugar e fui até a frente da casa da namorada de um amigo que estava com ele. Nem sinal deles pela resposta do porteiro. Fui até o orelhão mais próximo e disquei a cobrar. Atendeu e quando viu que era a cobrar desligou. Liguei pela segunda vez e dessa vez completou a ligação. Falei o mais rápido que pude e ele disse estar indo me encontrar.
Minutos depois ele e Pedro, o amigo, chegavam juntos. Questionamos o que faríamos e decidimos ir tomar vinho na adega. Um bar de freqüentadores de baixa renda que se amontoavam no balcão tomando pinga, famoso por seu vinho da casa que custava apenas 4 reais a garrafa e era um dos vinhos vagabundos mais satisfatórios que já havia tomado.
Entramos no bar e alguns moleques visivelmente mal-encarados estavam a frente. No balcão um conhecido dos bares pela cidade nos reconheceu e veio falar conosco. Não sabia seu nome e ele também não sabia o meu. Já estava um pouco bêbado pois estava tomando vodka. Tomamos algumas cervejas e compramos o vinho. Um dos garotos mal-encarados da entrada chamou o Hermano e perguntou se não queria comprar erva. Não queríamos. Pediu então dinheiro emprestado. Foi preciso dar aquela velha desculpa de que já tínhamos gastado tudo para que nos esquecessem. Compramos duas garrafas de vinho e quando saímos eles já não estavam mais na frente. Seguimos a pé e um carro velho com alguns idiotas passou nos xingando e gritando. Jogaram uma garrafa de vidro alguns metros a nossa frente para nos assustar com o barulho e não obtiveram sucesso. A garrafa se espatifou no chão e segundos depois passamos no lugar onde ela havia quebrado. As solas de meus tênis estavam consideravelmente furadas e um dos cacos entrou num dos buracos. Senti a pontada e tirei o pedaço de vidro. Sem cortes no meu pé.
O celular de Hermano tocou e era o Pedro Taconi. Outro grande amigo que havíamos combinado de sair. Combinamos de nos encontrar em outro bar da região central da cidade e pra lá seguimos.
O bar era famoso por exibir jogos de futebol e neste dia não foi diferente. Estava lotado dentro e fora, na calçada da frente. Torcedores vibravam com a decisão por pênaltis e depois lamentavam a eliminação de seu time.
Encontramos ele depois de alguns minutos de procura e reunidos seguimos para outro bar da cidade. Até esse momento já havíamos passado por quatro bares da cidade e consumido em três. O problema da cidade não é a falta de opção e sim a falta de qualidade.
Já no outro bar bebemos por mais tempo. Falamos banalidades e encontrei uma garota que havia me relacionado a tempos atrás. E que havia sido uma considerável vadia, mas isso não vem ao caso.
Então enquanto bebíamos e conversávamos o cara que havíamos encontrado no bar do vinho e que havia descoberto se chamar Marco abaixou a cabeça entre as pernas, apoiando a testa na mesa e ouvi o barulho de liquido caindo no chão. Ele havia vomitado em baixo da mesa com uma descrição que nunca havia visto nenhum bêbado ter. O vomito atingiu em cheio a perna do Hermano que apesar das desculpas de Marco percebi estar extremamente bravo. Eu e Pedro ao percebermos o que havia acontecido caímos em risada profunda.
O bar era repleto de patricinhas, mauricinhos e universitários ao fim de que decidimos seguir até outro bar que vendia cervejas mais baratas e ficava ali por perto.
Qual não foi a surpresa quando chegamos e encontramos o bar fechado. Vivia lotado nos finais de semana mas naquele sábado curiosamente se encontrava fechado. Outro amigo nos ligou no celular e disse estar indo nos encontrar. Logo Felipe chegou de carona com Juca, outro amigo e foi então que o pior da noite aconteceu. O carro do Juca tem vidros escuros e não da pra ver nada do que tem dentro. Estávamos bastante embriagados e achei que no carro só estivessem os dois amigos. Fizemos baderno nos vidros. Tirei as calças e juntei no vidro do carro em um ato bêbado para brincar com os rapazes. A janela do motorista se abriu e Hermano enfiou a cabeça dentro do carro. Dei a volta e entrei pelo outro lado para cumprimentar Juca e qual não foi minha surpresa quando era sua namorada que estava sentada ao seu lado. Estranho pois geralmente nesse horário, que já beiravam as três da manhã ela já estava em casa. Ela me expulsou do carro friamente sem hesitar e tentou fechar o vidro na cabeça do Hermano. E ele nada fez para impedir. Por isso que dizem que os amigos que namoram são sempre os mais chatos. E na grande maioria das vezes são mesmo.
Felipe desceu e nós seguimos a pé todo o caminho de volta ao centro no bar Potiguá, famoso por abrigar diversas tribos de rock da cidade.
O bar estava vazio e sem graça como tem sido ultimamente. Felipe e Hermano se sentaram a uma mesa e eu e Pedro fomos até o balcão. Marco, o cara do vômito encontrou um amigo e sumiu com ele.
Logo chegou um homem com capacete na mão e começou a conversar com um metaleiro cabeludo. O homem de capacete disse ser moto-taxi e logo a conversa chegou em Deus.
Os dois discutiam sobre a existência ou não de Deus e travavam uma batalha de opiniões. O moto-taxista perguntou o que o cabeludo fazia da vida e ele disse ser professor de inglês. O moto-taxista perguntou a escola onde ele dava aula e disse que iria ligar e mandar demitir o cabeludo no dia seguinte. Disse que podia comprar a escola de inglês e que o cabeludo não podia dar aula assim. Falava coisas como essa e arrancava risos tímidos de todos presentes que procuravam não se meter na discussão. Olhava para a cara do Pedro e riamos baixo.
Os dois continuaram discutindo e arrancando risos dos espectadores do debate até que o dia amanheceu e a discussão perdeu sua graça. Nos reunimos de novo e seguimos ao terminal. Pegamos o ônibus e voltamos para casa, para um merecido dia de sono.
Mas voltando ao assunto se tratando de um sábado a noite estava louco para sair. Era começo do mês de abril de 2007 e aquele ano estava sendo realmente chato em questão de diversão. As noites de sextas e sábados pareciam todas iguais e sem graças. Liguei para o Hermano e ele estava no bar onde todos os conhecidos costumavam ir aos finais de semana.
Um bar pequeno e ordinário. Parecia que todos freqüentavam o local por falta de opção. Esse era exatamente o meu caso, mas que estava tentando mudar após o garçom que já me conhecia de muitas bebedeiras e longas contas invocou de me pedir identidade. Como menor de idade a única coisa que consegui dizer foi a velha desculpa do “esqueci em casa” que é claro ele não acreditou. O que me deixava realmente puto pois havia gastado boas partes das minhas mesadas no tal bar e muitos outros menores com caras de menores e mais novos que eu bebiam lá sem maiores problemas. Era no mínimo implicância comigo. Maldito garçom. Desejei do fundo da minha alma que ele fosse garçom até o final de sua vida e que em seus dias de folga chovessem incessantemente para o desgraçado nunca mais poder se divertir nessa vida. È o que chamam de rebeldia adolescente que eu sinto ter desde criança e que tem se estendido até hoje e que provavelmente deve continuar no futuro e até o fim da minha vida. Esse famoso espírito rebelde e rock and roll que foi eternizado por gente como James Dean, Elvis Presley e os Rolling Stones. Os Ramones também se encaixam perfeitamente nesse quesito. Conseguiram captar toda aquela áurea de rebeldia, sensibilidade e dúvida que tendemos a passar dos nossos doze aos vinte anos. Coisa que no meu caso aparentava que duraria até o resto da minha. Mas não me abalava nem um pouco. Os adolescentes que tentavam ser adultos e chamar os outros de criança realmente me irritavam. Esses sim eram uns cretinos. Vestidos em disfarces de moral tentavam dar lições de vida, a qual não tinham a mínima sabedoria, tentando dar uma impressão de experiência e causar um ar de respeito às outras vítimas da juventude contemporânea. Vítimas sim. Reféns dessa fase conturbada onde as garotas são o alvo principal e a inconseqüência é a marca registrada. Onde não usar drogas é ser careta e onde ler é perca de tempo para a maioria. Essa última por sinal era a única coisa que me irritava nessa geração. As poucas pessoas que gostavam de ler se apoiavam em autores como Shakespeare, Castro Alves, Carlos Drummond de Andrade entre outros e tentavam manter uma falsa aparência de maturidade. Não que esses caras não sejam brilhantes, eles realmente devem ser.Mas para mim não tem nada a ver com essa fase de espinhas na cara, bebidas na goela, beijos na boca e todas essas coisas que passamos. E pela qual eu estava profundamente mergulhado, afogado e bêbado. Se tem uma coisa que eu realmente nunca me familiarizei foi responsabilidade. Ela bate de frente com meu espírito outsider de liberdade. Preciso de alguém sempre pegando no meu pé para fazer as coisas, assim como Elvis tinha cel. Parker eu preciso de alguém pra ficar controlando meus horários e me lembrando dos compromissos por mais Chato que isso seja e que realmente é. Ou preciso conhecer as pessoas que conseguiram conciliar seu espírito de liberdade com suas tarefas diárias e tomar umas aulas de como ser responsável comigo mesmo. Seja responsável Gabriel. – É isso que meus pais e meus professores vivem me dizendo. Você precisa ter horários a cumprir e não fazer as coisas quando der na sua telha pois seu corpo já esta acostumado a vagabundagem. Foi isso que meu pai me disse e que eu posso concordar plenamente. Meu corpo e minha mente se acostumaram a preguiça. Quanto ao corpo eu não ligo muito, mas quando vejo minha mente afundada em meu próprio ócio sinto um desespero horrível.
Mas voltando ao assunto da noite de sábado liguei para o Hermano e lá ele estava no bar onde todos costumavam ir aos finais de semana. Tomei uma carona com meu pai e quando cheguei lá não havia nem sombra dele. Perguntei a um conhecido e ele disse que havia subido a rua há algum tempo. Subi pelo mesmo lugar e fui até a frente da casa da namorada de um amigo que estava com ele. Nem sinal deles pela resposta do porteiro. Fui até o orelhão mais próximo e disquei a cobrar. Atendeu e quando viu que era a cobrar desligou. Liguei pela segunda vez e dessa vez completou a ligação. Falei o mais rápido que pude e ele disse estar indo me encontrar.
Minutos depois ele e Pedro, o amigo, chegavam juntos. Questionamos o que faríamos e decidimos ir tomar vinho na adega. Um bar de freqüentadores de baixa renda que se amontoavam no balcão tomando pinga, famoso por seu vinho da casa que custava apenas 4 reais a garrafa e era um dos vinhos vagabundos mais satisfatórios que já havia tomado.
Entramos no bar e alguns moleques visivelmente mal-encarados estavam a frente. No balcão um conhecido dos bares pela cidade nos reconheceu e veio falar conosco. Não sabia seu nome e ele também não sabia o meu. Já estava um pouco bêbado pois estava tomando vodka. Tomamos algumas cervejas e compramos o vinho. Um dos garotos mal-encarados da entrada chamou o Hermano e perguntou se não queria comprar erva. Não queríamos. Pediu então dinheiro emprestado. Foi preciso dar aquela velha desculpa de que já tínhamos gastado tudo para que nos esquecessem. Compramos duas garrafas de vinho e quando saímos eles já não estavam mais na frente. Seguimos a pé e um carro velho com alguns idiotas passou nos xingando e gritando. Jogaram uma garrafa de vidro alguns metros a nossa frente para nos assustar com o barulho e não obtiveram sucesso. A garrafa se espatifou no chão e segundos depois passamos no lugar onde ela havia quebrado. As solas de meus tênis estavam consideravelmente furadas e um dos cacos entrou num dos buracos. Senti a pontada e tirei o pedaço de vidro. Sem cortes no meu pé.
O celular de Hermano tocou e era o Pedro Taconi. Outro grande amigo que havíamos combinado de sair. Combinamos de nos encontrar em outro bar da região central da cidade e pra lá seguimos.
O bar era famoso por exibir jogos de futebol e neste dia não foi diferente. Estava lotado dentro e fora, na calçada da frente. Torcedores vibravam com a decisão por pênaltis e depois lamentavam a eliminação de seu time.
Encontramos ele depois de alguns minutos de procura e reunidos seguimos para outro bar da cidade. Até esse momento já havíamos passado por quatro bares da cidade e consumido em três. O problema da cidade não é a falta de opção e sim a falta de qualidade.
Já no outro bar bebemos por mais tempo. Falamos banalidades e encontrei uma garota que havia me relacionado a tempos atrás. E que havia sido uma considerável vadia, mas isso não vem ao caso.
Então enquanto bebíamos e conversávamos o cara que havíamos encontrado no bar do vinho e que havia descoberto se chamar Marco abaixou a cabeça entre as pernas, apoiando a testa na mesa e ouvi o barulho de liquido caindo no chão. Ele havia vomitado em baixo da mesa com uma descrição que nunca havia visto nenhum bêbado ter. O vomito atingiu em cheio a perna do Hermano que apesar das desculpas de Marco percebi estar extremamente bravo. Eu e Pedro ao percebermos o que havia acontecido caímos em risada profunda.
O bar era repleto de patricinhas, mauricinhos e universitários ao fim de que decidimos seguir até outro bar que vendia cervejas mais baratas e ficava ali por perto.
Qual não foi a surpresa quando chegamos e encontramos o bar fechado. Vivia lotado nos finais de semana mas naquele sábado curiosamente se encontrava fechado. Outro amigo nos ligou no celular e disse estar indo nos encontrar. Logo Felipe chegou de carona com Juca, outro amigo e foi então que o pior da noite aconteceu. O carro do Juca tem vidros escuros e não da pra ver nada do que tem dentro. Estávamos bastante embriagados e achei que no carro só estivessem os dois amigos. Fizemos baderno nos vidros. Tirei as calças e juntei no vidro do carro em um ato bêbado para brincar com os rapazes. A janela do motorista se abriu e Hermano enfiou a cabeça dentro do carro. Dei a volta e entrei pelo outro lado para cumprimentar Juca e qual não foi minha surpresa quando era sua namorada que estava sentada ao seu lado. Estranho pois geralmente nesse horário, que já beiravam as três da manhã ela já estava em casa. Ela me expulsou do carro friamente sem hesitar e tentou fechar o vidro na cabeça do Hermano. E ele nada fez para impedir. Por isso que dizem que os amigos que namoram são sempre os mais chatos. E na grande maioria das vezes são mesmo.
Felipe desceu e nós seguimos a pé todo o caminho de volta ao centro no bar Potiguá, famoso por abrigar diversas tribos de rock da cidade.
O bar estava vazio e sem graça como tem sido ultimamente. Felipe e Hermano se sentaram a uma mesa e eu e Pedro fomos até o balcão. Marco, o cara do vômito encontrou um amigo e sumiu com ele.
Logo chegou um homem com capacete na mão e começou a conversar com um metaleiro cabeludo. O homem de capacete disse ser moto-taxi e logo a conversa chegou em Deus.
Os dois discutiam sobre a existência ou não de Deus e travavam uma batalha de opiniões. O moto-taxista perguntou o que o cabeludo fazia da vida e ele disse ser professor de inglês. O moto-taxista perguntou a escola onde ele dava aula e disse que iria ligar e mandar demitir o cabeludo no dia seguinte. Disse que podia comprar a escola de inglês e que o cabeludo não podia dar aula assim. Falava coisas como essa e arrancava risos tímidos de todos presentes que procuravam não se meter na discussão. Olhava para a cara do Pedro e riamos baixo.
Os dois continuaram discutindo e arrancando risos dos espectadores do debate até que o dia amanheceu e a discussão perdeu sua graça. Nos reunimos de novo e seguimos ao terminal. Pegamos o ônibus e voltamos para casa, para um merecido dia de sono.
Sunday, April 29, 2007
Wait until the winter, biel...
Sempre gostei do frio. A época na infância onde assistia filmes entre cobertores junto com meus pais e minha mãe fazia chocolate quente com canela e uma barra de chocolate em cada chicara derretendo enquanto a bebida morna descia por minha garganta e aquecia meu corpo nas noites de frio. Tambem haviam os fondues. Como eram demais! Nos reuniamos em volta da mesa de vidro da sala de jantar e eu mergulhava meus pequenos pedaços de pão italiano no delicioso queijo derretido. Então vinha a melhor parte do fondue. O chocolate derretido e as frutas mergulhadas na maravilhosa massa de chocolate. Então girava e girava os pedaços de banana e uva dentro da panela constantemente aquecida por uma chama por baixo e na grande maioria das vezes acabava perdendo os pedaços de fruta la dentro. E então toda aquela batalha divertida para encontrar e caçar meu pedaço de fruta mergulhado no chocolate.
E todas aquelas roupas e mais roupas amontoadas em meu corpo. Cachecois, luvas e gorros. Era simplesmente incrivel. É claro que tambem tinha o lado ruim. Com o tempo quando passei a estudar de manhã o inverno era uma péssima epoca para se acordar. E os banhos no inverno tambem era terriveis. Mas apesar de tudo eu preferia milhoes de vezes ao calor.
E então o tempo passou e parece que levou o inverno com ele. Já fazem uns anos que não tenho os prazeres de infância e não posso adquirir novas manias para esse clima de acordo com o passar dos anos. Coisas como tomar vinho e caminhar pelas ruas de jaqueta de couro num frio de gelar o rosto, as maos e os pés. Coisas que não faço a uns dois anos ou mais.E então ontem tudo pareceu voltar a essa época antiga. Sai de jaqueta realmente precisando dela. Senti o vento gelado em meu peito coberto apenas por camiseta e fechei os botões da jaqueta jeans um pouco apertada. Mas era muito prazeroso. Não havia porque criticar. Não, nem por um minuto. O vento gelado era maravilhoso e fazia os cabelos se desmancharem no ar. Voltei para casa e dormi com dois cobertores. Há muito tempo não dormia nem com um.
E hoje pela manhã parecia que finalmente a melhor época do ano havia voltado pra ficar. Mesmo ainda sendo outono, ou primavera. Eu sei lá.
E mesmo o inverno ainda não ter chego em definitivo esse dia de frio me fez ter a sensação de que mesmo com o aquecimento global, derretimentos de geleira, recordes de temperaturas elevadas e todos esses fenômenos catastróficos que estamos passando o inverno desse ano vai ser assim como os da minha infância, ou até melhores. Filmes, cobertores, jaquetas, gorros, luvas, chocolates quente, fondue e agora mais do que nunca os vinhos baratos aquecendo minha vida.
Ah, o inverno! Espere até o inverno, biel...
E todas aquelas roupas e mais roupas amontoadas em meu corpo. Cachecois, luvas e gorros. Era simplesmente incrivel. É claro que tambem tinha o lado ruim. Com o tempo quando passei a estudar de manhã o inverno era uma péssima epoca para se acordar. E os banhos no inverno tambem era terriveis. Mas apesar de tudo eu preferia milhoes de vezes ao calor.
E então o tempo passou e parece que levou o inverno com ele. Já fazem uns anos que não tenho os prazeres de infância e não posso adquirir novas manias para esse clima de acordo com o passar dos anos. Coisas como tomar vinho e caminhar pelas ruas de jaqueta de couro num frio de gelar o rosto, as maos e os pés. Coisas que não faço a uns dois anos ou mais.E então ontem tudo pareceu voltar a essa época antiga. Sai de jaqueta realmente precisando dela. Senti o vento gelado em meu peito coberto apenas por camiseta e fechei os botões da jaqueta jeans um pouco apertada. Mas era muito prazeroso. Não havia porque criticar. Não, nem por um minuto. O vento gelado era maravilhoso e fazia os cabelos se desmancharem no ar. Voltei para casa e dormi com dois cobertores. Há muito tempo não dormia nem com um.
E hoje pela manhã parecia que finalmente a melhor época do ano havia voltado pra ficar. Mesmo ainda sendo outono, ou primavera. Eu sei lá.
E mesmo o inverno ainda não ter chego em definitivo esse dia de frio me fez ter a sensação de que mesmo com o aquecimento global, derretimentos de geleira, recordes de temperaturas elevadas e todos esses fenômenos catastróficos que estamos passando o inverno desse ano vai ser assim como os da minha infância, ou até melhores. Filmes, cobertores, jaquetas, gorros, luvas, chocolates quente, fondue e agora mais do que nunca os vinhos baratos aquecendo minha vida.
Ah, o inverno! Espere até o inverno, biel...
A vida como ela é.
Não sei se foi a ressaca ou os quinze dias sem sair em Londrina, mas me senti extremamente apático nesta noite. Não sei se pelo fato de ser domingo talvez. O dia mais chato da semana. Um domingo enjoado e com uma dor de cabeça pra ninguém botar defeito.
Quatorze dias sem beber e uma festa de meu pai a seus amigos com 50 litros de chopp. Perdi a conta de quantos tomei. Mas sei exatamente a conta do mal estar dominical.
De qualquer modo vou contar o que aconteceu. Fui convidado a comer um lanche na lanchonete onde o pessoal costuma ir aos domingos. Não estava com fome mas queria ver pessoas e respirar um pouco de ar. Livrar-me da atmosfera caseira por um tempo. Meu espírito outsider implorava por isso. Dito e feito.
Tomei uma coca-cola e joguei papo fora. E se querem saber me arrependo de ter pisado fora de casa. Desde esse momento eu me arrependo friamente. Duas semanas depois e as coisas continuam exatamente iguais. Ou piores. Pessoas medíocres e algumas raras exceções. Todos me parecem frios. Esta tudo cinza e todos agem como marionetes construindo relações de amor e ódio. Às vezes o problema não esteja com eles. As vezes esse é o modo certo de se viver e eu estou errado, querendo que tudo seja feito com mais paixão e que as pessoas sejam mais honestas e verdadeiras. Eu realmente devo estar errado sobre tudo na vida.
Depois que todos foram embora e fiquei sozinho senti um gosto amargo em minha boca. Amargo de decepção. Não há graça em viver nesta cidade. Não há euforia nas pessoas e não há alegria nos lugares. É tudo realmente escroto. As pessoas olham para seu próprio umbigo, apontam os outros com seus dedos e falam da vida alheia com suas bocas.
Isto tudo, isto tudo sem contar o grande enjôo que se formava em meu estomago e se refletia em minha alma. A ressaca voltava à tona com a força de um foguete em disparada e a sensação de derrotismo me apunhalava em cheio como um soco na barriga. O céu sabe que sou miserável agora.
Às vezes é realmente difícil viver a vida como ela é.
Quatorze dias sem beber e uma festa de meu pai a seus amigos com 50 litros de chopp. Perdi a conta de quantos tomei. Mas sei exatamente a conta do mal estar dominical.
De qualquer modo vou contar o que aconteceu. Fui convidado a comer um lanche na lanchonete onde o pessoal costuma ir aos domingos. Não estava com fome mas queria ver pessoas e respirar um pouco de ar. Livrar-me da atmosfera caseira por um tempo. Meu espírito outsider implorava por isso. Dito e feito.
Tomei uma coca-cola e joguei papo fora. E se querem saber me arrependo de ter pisado fora de casa. Desde esse momento eu me arrependo friamente. Duas semanas depois e as coisas continuam exatamente iguais. Ou piores. Pessoas medíocres e algumas raras exceções. Todos me parecem frios. Esta tudo cinza e todos agem como marionetes construindo relações de amor e ódio. Às vezes o problema não esteja com eles. As vezes esse é o modo certo de se viver e eu estou errado, querendo que tudo seja feito com mais paixão e que as pessoas sejam mais honestas e verdadeiras. Eu realmente devo estar errado sobre tudo na vida.
Depois que todos foram embora e fiquei sozinho senti um gosto amargo em minha boca. Amargo de decepção. Não há graça em viver nesta cidade. Não há euforia nas pessoas e não há alegria nos lugares. É tudo realmente escroto. As pessoas olham para seu próprio umbigo, apontam os outros com seus dedos e falam da vida alheia com suas bocas.
Isto tudo, isto tudo sem contar o grande enjôo que se formava em meu estomago e se refletia em minha alma. A ressaca voltava à tona com a força de um foguete em disparada e a sensação de derrotismo me apunhalava em cheio como um soco na barriga. O céu sabe que sou miserável agora.
Às vezes é realmente difícil viver a vida como ela é.
A primeira aula de gaita.
Acordei tarde para variar. Quase duas. Tomei o café da manhã. È, café da manhã as duas da tarde mesmo. Passei um tempo em frente ao diário computador, tomei um banho e almocei.Esperei para pegar o ônibus e consegui uma carona. Com minha mãe mesmo. Seguimos o caminho e passamos em dois bancos antes onde tive que fazer hora até que ela me deixasse no centro. Passei na biblioteca pública. Entreguei o incrivel "bonequinha de luxo" do Capote que havia lido e tomei emprestado "Sonhos de bunker hill" do maravilhoso gênio Fante.
Segui até a casa do avô do Rico. Nos encontramos. Andamos até o shopping popular da cidade, mais conhecido como câmelo. Comprei cds virgens e um fone de ouvido barato. Fomos até um brechó e comprei um colete social novo. Novo para mim e velho para alguem. Essa é a maravilha dos brechós. Andamos de volta e fizemos o tempo passar na casa de seu avô.
Caminhei até a escola de música onde faria minha primeira aula de gaita. Aula experimental. No caminho passei na frente de um prédio onde morava uma garota que a uns três ou quatro anos atrás havia me rejeitado. Os fantasmas dessa cidade me assombram com essas lembranças.Esperei um tempo na apertada secretária da escola de música onde havia uma pequena televisão para assistir. Passava um dos progamas da tarde onde três rapazes tentavam conquistar uma garota. Os famosos progamas de namoro ou amizade eternizados pelo eterno Silvio Santos.
O professor chegou. usava sandalias de couro e roupas informais. Tinha barba e cabelo enrolados e relativamente grandes. Um rosto um pouco longo e parecia ser um bom homem.
A aula durou pouco mais de meia hora. Aprendi algumas coisas básicas sobre como segurar e assoprar a gaita e ele explicou como funcionava o curso. Então fiz minha matricula e agendei as aulas para as semanas seguintes, todas ao mesmo horário.Uma hora de ócio a menos na minha semana.
Ótimo progresso.
Segui até a casa do avô do Rico. Nos encontramos. Andamos até o shopping popular da cidade, mais conhecido como câmelo. Comprei cds virgens e um fone de ouvido barato. Fomos até um brechó e comprei um colete social novo. Novo para mim e velho para alguem. Essa é a maravilha dos brechós. Andamos de volta e fizemos o tempo passar na casa de seu avô.
Caminhei até a escola de música onde faria minha primeira aula de gaita. Aula experimental. No caminho passei na frente de um prédio onde morava uma garota que a uns três ou quatro anos atrás havia me rejeitado. Os fantasmas dessa cidade me assombram com essas lembranças.Esperei um tempo na apertada secretária da escola de música onde havia uma pequena televisão para assistir. Passava um dos progamas da tarde onde três rapazes tentavam conquistar uma garota. Os famosos progamas de namoro ou amizade eternizados pelo eterno Silvio Santos.
O professor chegou. usava sandalias de couro e roupas informais. Tinha barba e cabelo enrolados e relativamente grandes. Um rosto um pouco longo e parecia ser um bom homem.
A aula durou pouco mais de meia hora. Aprendi algumas coisas básicas sobre como segurar e assoprar a gaita e ele explicou como funcionava o curso. Então fiz minha matricula e agendei as aulas para as semanas seguintes, todas ao mesmo horário.Uma hora de ócio a menos na minha semana.
Ótimo progresso.
Thursday, April 05, 2007
Garotos e Garotas
Aquele era o bar da galera. O bar dos jovens. O bar onde garotos e garotas se encontravam para paquerar e dançar rock and roll. O bar onde os garotos jogavam sinuca e as garotas pinball. Até que um dia os garotos e garotas deram de portas fechadas. O bar havia fechado por ordem dos vizinhos e dos pais dos garotos e garotas que frequentavam o local. Agora os garotos e garotas teriam que se virar para se divertir tanto quanto ali. E os garotos e garotas cresceram. Sem nunca mais se divertir tanto quanto naquele lugar. E viraram homens e mulheres. Homens e mulheres de negócios. Homens e mulheres com relacionamentos instaveis mas empregos agradaveis. Homens e mulheres que se divertem em jantares de luxo, boates com comandas e carros do ano. Homens e mulheres que viajam para o exterior e passam os feriados no apartamento na beira da praia mais badalada. E agora os homens e mulheres tiveram filhos. E seus filhos cresceram assistindo Tv a cabo e jogando video-games de ultima geração. E seus filhos cresceram mais e gostam de ir aos bares. E seus filhos descobriram um novo bar na cidade. Um bar onde os garotos e garotas se encontram para paquerar e dançar rock and roll. Um bar onde os garotos jogam sinuca e as garotas pinball. Até que um dia os garotos e garotas deram de portas fechadas. O bar havia fechado por ordem dos vizinhos e dos pais dos garotos e garotas que frequentavam o local. Os mesmos homens e mulheres que um dia já foram garotos e garotas. Agora os garotos e garotas teriam que se virar para se divertir tanto quanto ali. E os garotos e garotas cresceram. Sem nunca mais se divertir tanto quanto naquele lugar.
E viraram homens e mulheres...
E viraram homens e mulheres...
Wednesday, April 04, 2007
A madame e o motorista.
Ela era loira natural. Seios turbinados de silicone, nariz de cirurgia plástica e roupas da última moda. Gastava cinquenta reais para aparar as pontas do cabelo e desfilava pelo shopping três vezes por semana entrando de mãos vazias e saindo com dezenas de sacolas. Todas elas carregadas por um motorista contratado de quépe e terno completo. Ela tinha até nome de gente importante. Valquiria Nascimento de Mello. Chiquérrima.
Ele por outro lado tinha um nome igual a tantos outros brasileiros. Era José Carlos Da Silva. Zé Silva no trabalho por causa de outros Zé que tinham por lá e Zeca para os amigos de futebol e churrascos. Era manobrista do melhor shopping da cidade. Onde vendiam as roupas mais caras e as senhoras e senhores mais importantes passavam para renovar seu guarda-roupa.
As roupas de Zeca eram as mesmas a anos. Vez ou outra ganhava uma camisa ou meias da liquidação da loja popular no natal. Presente da vovó.
Pelo menos o emprego conseguira. Não era lá grandes coisas mas era o que Zéca sabia fazer. Dirigia muito bem e sempre fora o melhor no volante desde os amigos de adolescência.
Passava o dia girando volantes e pisando em freios e aceleradores de carros de maior luxo. Conhecia praticamente todos os carros importantes da cidade. Havia dirigido cada um ao menos uma vez. Mesmo que fosse por apenas alguns metros fazendo curvas e balizas.
Um dia o destino pregou uma peça. O motorista de dona Valquiria havia sido demitido por ela mesma. Segundo ela incompetencia. Chegara minutos atrasada no chá com as amigas na delicatéssen mais famosa da cidade. O trânsito estava feio e a hora do rush começava a dar seus sinais caóticos na grande cidade. Mas ela pouco se importou. Marcou seu chá as cinco e queria ser pontual como as ladyes inglesas deviam ser. Por isso decidiu ela mesmo dirigir ao shopping. Lá pagaria algum funcionário ou vendedor para levar as sacolas. E foi.
Chegou apressada. Largou o Porsche ganhado de presente pelo marido executivo que passava a maioria dos dias viajando na frente do estacionamento e jogou as chaves para Zéca. Não costumava gostar de ninguem. Nem mesmo gostava de seu marido e não se importava se ele tivesse amantes em suas constantes viajens. Ele financiava seus luxos e isso era o suficiente para ela. Mas simpatizou com Zeca de sopetão. Chamou o gerente do estacionamento do shopping e disse que queria o rapaz para ajuda-la a carregar as compras. Ele concordou e aconselhou o funcionário a manter o bico calado e ajudar no que fosse preciso.
Zeca acompanhou a dona por dentro do shopping. Trabalhava no mesmo lugar a mais de dois anos mas entrara no shopping no máximo três vezes. Os vendedores não gostavam de funcionários externos zanzando pelo shopping. Tinham uma imagem a zelar, diziam.
Zeca acompanhou a dona em todas as lojas. Não abria o bico em momento algum. Ela experimentava as roupas e perguntava sua opinião. Dizia que a senhora estava muito mágnifica e encolhia os ombros com vergonha. Horas de compra se passaram. A dona foi até a praça de alimentação tomar um cappucino e comer um croissant. Zeca associou aquele lanchinho de dona Valquiria com seu pão com mortadela e seu pingado todas as manhãs no bar da esquina de sua casa. Ela perguntou se Zeca estava com fome. Ele confirmou vergonhoso. Ela pediu o mesmo para o rapaz. Se deliciou na comida. Era muito melhor que pão com mortadela e pingado.
Sairam do shopping e foram ao carro. Zeca se atrapalhava em meio a tantas sacolas mas se saia bem. Dona Valquiria caminhava com seu salto alto elegante a sua frente. Descarregou as compras no banco de trás do carro. Valquiria indagou quanto o jovem rapaz recebia. Receoso Zeca falou tímido - Quatrocentos senhora. Disse que agora ele poderia ser seu chofer pelo dobro do salário. Aceitou e pediu as contas ao antigo chefe.
Ganhou quépe e terno. Agora era "elegante" também. Mesmo sem trabalhar no estacionamento continuava indo ao shopping toda semana. Os ex-colegas de trabalho agora comentavam que Zé Silva era protegido da Dona. Zeca se sentia importante. Era um bom motorista para a dona.
Um dia ao sair do shopping após mais uma tarde de compras incessantes ela indicou caminhos diferentes ao da mansão no bairro nobre onde moravam. Zeca seguiu obedientemente. Pararam em frente a um motel. Um dos mais populares da cidade. Zeca perguntou se não se tratava um engano da dona. Ela mandou seguir.
Entraram num dos quartos de paredes imundas e chuveiro elétrico no banheiro. Valquiria satisfez seus desejos de ser possuída como uma qualquer, por seu motorista. Numa cama velha com lençóis sujos.
Desse dia em diante repetiram o caminho todas as semanas.
Ele por outro lado tinha um nome igual a tantos outros brasileiros. Era José Carlos Da Silva. Zé Silva no trabalho por causa de outros Zé que tinham por lá e Zeca para os amigos de futebol e churrascos. Era manobrista do melhor shopping da cidade. Onde vendiam as roupas mais caras e as senhoras e senhores mais importantes passavam para renovar seu guarda-roupa.
As roupas de Zeca eram as mesmas a anos. Vez ou outra ganhava uma camisa ou meias da liquidação da loja popular no natal. Presente da vovó.
Pelo menos o emprego conseguira. Não era lá grandes coisas mas era o que Zéca sabia fazer. Dirigia muito bem e sempre fora o melhor no volante desde os amigos de adolescência.
Passava o dia girando volantes e pisando em freios e aceleradores de carros de maior luxo. Conhecia praticamente todos os carros importantes da cidade. Havia dirigido cada um ao menos uma vez. Mesmo que fosse por apenas alguns metros fazendo curvas e balizas.
Um dia o destino pregou uma peça. O motorista de dona Valquiria havia sido demitido por ela mesma. Segundo ela incompetencia. Chegara minutos atrasada no chá com as amigas na delicatéssen mais famosa da cidade. O trânsito estava feio e a hora do rush começava a dar seus sinais caóticos na grande cidade. Mas ela pouco se importou. Marcou seu chá as cinco e queria ser pontual como as ladyes inglesas deviam ser. Por isso decidiu ela mesmo dirigir ao shopping. Lá pagaria algum funcionário ou vendedor para levar as sacolas. E foi.
Chegou apressada. Largou o Porsche ganhado de presente pelo marido executivo que passava a maioria dos dias viajando na frente do estacionamento e jogou as chaves para Zéca. Não costumava gostar de ninguem. Nem mesmo gostava de seu marido e não se importava se ele tivesse amantes em suas constantes viajens. Ele financiava seus luxos e isso era o suficiente para ela. Mas simpatizou com Zeca de sopetão. Chamou o gerente do estacionamento do shopping e disse que queria o rapaz para ajuda-la a carregar as compras. Ele concordou e aconselhou o funcionário a manter o bico calado e ajudar no que fosse preciso.
Zeca acompanhou a dona por dentro do shopping. Trabalhava no mesmo lugar a mais de dois anos mas entrara no shopping no máximo três vezes. Os vendedores não gostavam de funcionários externos zanzando pelo shopping. Tinham uma imagem a zelar, diziam.
Zeca acompanhou a dona em todas as lojas. Não abria o bico em momento algum. Ela experimentava as roupas e perguntava sua opinião. Dizia que a senhora estava muito mágnifica e encolhia os ombros com vergonha. Horas de compra se passaram. A dona foi até a praça de alimentação tomar um cappucino e comer um croissant. Zeca associou aquele lanchinho de dona Valquiria com seu pão com mortadela e seu pingado todas as manhãs no bar da esquina de sua casa. Ela perguntou se Zeca estava com fome. Ele confirmou vergonhoso. Ela pediu o mesmo para o rapaz. Se deliciou na comida. Era muito melhor que pão com mortadela e pingado.
Sairam do shopping e foram ao carro. Zeca se atrapalhava em meio a tantas sacolas mas se saia bem. Dona Valquiria caminhava com seu salto alto elegante a sua frente. Descarregou as compras no banco de trás do carro. Valquiria indagou quanto o jovem rapaz recebia. Receoso Zeca falou tímido - Quatrocentos senhora. Disse que agora ele poderia ser seu chofer pelo dobro do salário. Aceitou e pediu as contas ao antigo chefe.
Ganhou quépe e terno. Agora era "elegante" também. Mesmo sem trabalhar no estacionamento continuava indo ao shopping toda semana. Os ex-colegas de trabalho agora comentavam que Zé Silva era protegido da Dona. Zeca se sentia importante. Era um bom motorista para a dona.
Um dia ao sair do shopping após mais uma tarde de compras incessantes ela indicou caminhos diferentes ao da mansão no bairro nobre onde moravam. Zeca seguiu obedientemente. Pararam em frente a um motel. Um dos mais populares da cidade. Zeca perguntou se não se tratava um engano da dona. Ela mandou seguir.
Entraram num dos quartos de paredes imundas e chuveiro elétrico no banheiro. Valquiria satisfez seus desejos de ser possuída como uma qualquer, por seu motorista. Numa cama velha com lençóis sujos.
Desse dia em diante repetiram o caminho todas as semanas.
Monday, March 26, 2007
A primeira carona.
Foi em uma quinta-feira a noite de Julho. Eram as férias do meio do ano e eu estava achando que ia amargar a noite em casa sozinho. Então um amigo me ligou e me convidou pra irmos beber umas cervejas na casa de um outro amigo nosso. Aceitei e segui para a casa dele. Estávamos em sete caras. Então resolvemos pedir um pouco mais de uma grade de cerveja. Num total de aproximadamente trinta garrafas da cerveja mais barata e vagabunda.
Bebemos e conversamos no decorrer da noite. A lucidez foi embora e a fome chegou. Preparamos miojos instantâneos em uma grande panela. Dividimos em pratos e uma briga entre dois dos amigos por quantidade começou. Eles começaram a discutir e colocar desavenças pessoais no meio, apesar de serem muito amigos. Um deles começou a chorar e nós ficamos divididos. Continuei bebendo. Outro que também estava entre os dividos foi embora pra sua casa dormir e o que estava chorando subiu para o quarto do dono da casa logo depois.
Passamos a noite bebendo na varanda da casa. A manhã chegou e as últimas cervejas acabaram. Nos despedimos perto das oito da manhã e descemos a rua de sua casa em direção a uma avenida movimentada algumas quadras abaixo, onde um dos caras pegaria um moto-taxi. O motoqueiro chegou e ele foi embora. Ficamos eu e mais dois completamente embriagados. A noite é realmente inesperada. Nesse caso a manhã, ou seja la o que for esse horário maluco.
Começamos a pedir carona na movimentada avenida. Muitas pessoas seguindo para suas ocupações e trabalhos e nós bêbados sem dormir esperando que alguma carona nos livrasse de caminhar um longo caminho a pé. Dez minutos se passaram e o máximo que conseguimos foi um cara de um carro fazendo sinal com as mãos para irmos a pé. Abaixei as calças e mostrei tudo que devia pro individuo. O que não devia também, mas embriagado você não pensa em absolutamente nada. E também não pensa que além do maldito engraçadinho centenas de pessoas passavam numa ensolarada manhã em seus carros.
Eu já queria desistir. Um deles disse para persistirmos e ele estava certo. Logo um carro do tipo Gol, Corsa ou algo do tipo parou. Corremos até a janela onde um senhor de aproximadamente 40 anos de barba cerrada e cabelos com sinais de brancura dirigia sozinho. Perguntamos se passaria pela avenida Maringá, que era paralela às ruas onde eu e o outro morávamos. Ele confirmou e subimos. Ótimo.
Conversamos no trajeto. O senhor era dentista e estava indo para o trabalho. Falamos sobre futebol e copa do mundo. Ele pareceu ser gente boa. Ia atravessar a avenida inteira e deixou primeiro um deles na rua de sua casa e depois a mim e o outro na rua da minha.
Agradecemos o senhor e descemos na esquina do quarteirão onde eu morava mas não seguimos para casa. Fomos até o posto que ficava do outro lado da rua e que funcionava como padaria na loja de conveniência.
Juntamos os trocados e compramos pães com mortadela. Um total de dois reais e dois pães com algumas fatias de mortadela para cada um. Melhoramos colocando mostarda e catchup que eles distribuíam de graça em pequenos saches.
Terminamos de comer e andamos em direção a minha casa. Do lado esquerdo da rua três ônibus de excursão se enfileiravam esperando que todos seus ocupantes se acomodassem para partir. Enquanto passávamos alguém de dentro do ônibus mecheu conosco. Geralmente não levaríamos a sério. Mas não naquele dia e não naquele estado alcoólico. Voltamos e xingamos todos dos ônibus. Corri até em casa no intuito de pegar alguma faca ou algo assim para ameaçar os indivíduos, desisti e voltei desferir palavras de baixo calão aos desgraçados.
Uma garota gorda e negra apareceu na janela e pediu desculpas pelo suposto rapaz. Ah se as pessoas daqueles ônibus se irritassem nos estaríamos realmente em apuros. Mas incrivelmente nos saímos bem dessa. De cabeça erguida e peito estufado. Com ares de vencedores.
Chegamos em casa e desmaiamos na cama. Acordei na sexta-feira as quatro da tarde lembrando que havia marcado de ir almoçar com um amigo num restaurante vegetariano. Não compareci.
Bebemos e conversamos no decorrer da noite. A lucidez foi embora e a fome chegou. Preparamos miojos instantâneos em uma grande panela. Dividimos em pratos e uma briga entre dois dos amigos por quantidade começou. Eles começaram a discutir e colocar desavenças pessoais no meio, apesar de serem muito amigos. Um deles começou a chorar e nós ficamos divididos. Continuei bebendo. Outro que também estava entre os dividos foi embora pra sua casa dormir e o que estava chorando subiu para o quarto do dono da casa logo depois.
Passamos a noite bebendo na varanda da casa. A manhã chegou e as últimas cervejas acabaram. Nos despedimos perto das oito da manhã e descemos a rua de sua casa em direção a uma avenida movimentada algumas quadras abaixo, onde um dos caras pegaria um moto-taxi. O motoqueiro chegou e ele foi embora. Ficamos eu e mais dois completamente embriagados. A noite é realmente inesperada. Nesse caso a manhã, ou seja la o que for esse horário maluco.
Começamos a pedir carona na movimentada avenida. Muitas pessoas seguindo para suas ocupações e trabalhos e nós bêbados sem dormir esperando que alguma carona nos livrasse de caminhar um longo caminho a pé. Dez minutos se passaram e o máximo que conseguimos foi um cara de um carro fazendo sinal com as mãos para irmos a pé. Abaixei as calças e mostrei tudo que devia pro individuo. O que não devia também, mas embriagado você não pensa em absolutamente nada. E também não pensa que além do maldito engraçadinho centenas de pessoas passavam numa ensolarada manhã em seus carros.
Eu já queria desistir. Um deles disse para persistirmos e ele estava certo. Logo um carro do tipo Gol, Corsa ou algo do tipo parou. Corremos até a janela onde um senhor de aproximadamente 40 anos de barba cerrada e cabelos com sinais de brancura dirigia sozinho. Perguntamos se passaria pela avenida Maringá, que era paralela às ruas onde eu e o outro morávamos. Ele confirmou e subimos. Ótimo.
Conversamos no trajeto. O senhor era dentista e estava indo para o trabalho. Falamos sobre futebol e copa do mundo. Ele pareceu ser gente boa. Ia atravessar a avenida inteira e deixou primeiro um deles na rua de sua casa e depois a mim e o outro na rua da minha.
Agradecemos o senhor e descemos na esquina do quarteirão onde eu morava mas não seguimos para casa. Fomos até o posto que ficava do outro lado da rua e que funcionava como padaria na loja de conveniência.
Juntamos os trocados e compramos pães com mortadela. Um total de dois reais e dois pães com algumas fatias de mortadela para cada um. Melhoramos colocando mostarda e catchup que eles distribuíam de graça em pequenos saches.
Terminamos de comer e andamos em direção a minha casa. Do lado esquerdo da rua três ônibus de excursão se enfileiravam esperando que todos seus ocupantes se acomodassem para partir. Enquanto passávamos alguém de dentro do ônibus mecheu conosco. Geralmente não levaríamos a sério. Mas não naquele dia e não naquele estado alcoólico. Voltamos e xingamos todos dos ônibus. Corri até em casa no intuito de pegar alguma faca ou algo assim para ameaçar os indivíduos, desisti e voltei desferir palavras de baixo calão aos desgraçados.
Uma garota gorda e negra apareceu na janela e pediu desculpas pelo suposto rapaz. Ah se as pessoas daqueles ônibus se irritassem nos estaríamos realmente em apuros. Mas incrivelmente nos saímos bem dessa. De cabeça erguida e peito estufado. Com ares de vencedores.
Chegamos em casa e desmaiamos na cama. Acordei na sexta-feira as quatro da tarde lembrando que havia marcado de ir almoçar com um amigo num restaurante vegetariano. Não compareci.
Friday, March 16, 2007
Vinho barato na taça de cristal
Sexta a noite. Todas as pessoas trabalharam incessantemente durante a semana e aguardaram essa noite. E ela chegou. Eu por outro lado não fiz absolutamente nada a semana inteira. Passei quase todos os meus dias trancado dentro dessa fortaleza de concreto que chamam de casa. E eu não fiz nada alem disso e de ouvir música e comer.E agora a sexta chegou. Ninguém para sair. Os meus poucos amigos se encontram numa sexta difícil. Eu realmente não podia deixar minha cabeça se quebrar sozinho nesse mar de tédio. Não mesmo. Eu não agüento mais essa monotonia. Ela está acabando comigo.Fui até um bar a algumas quadras de distância. Comprei um vinho barato de 5 reais. E cá estou eu.
Tomando meu vinho barato numa taça de cristal. Que ironia.
Garotas saem com os namorados. Outras garotas se lamentam por seus relacionamentos não terem dado certo. Eu simplesmente me privo desse problema, não tenho relacionamento pra me preocupar. Não tenho bunda para levar pé e não tenho pé para chutar bunda.
Ás vezes eu me sinto sozinho. É claro. E quem não se sente. São nesses dias como hoje em que compro uma garrafa de vinho ou de algo que o valha e ouço música e escrevo. Oh, e isso me faz realmente muito bem. Nesse momento eu ouço os smiths e o Morrisey sabe como ser melódico. Mas eu também sei interpretá-lo como uma ótima voz que anima minha sexta entediante. E por alguns minutos eu me sinto feliz. Sim, sim, sim! Feliz como um pássaro que canta na gaiola. Ele não está livre, mas tem sua comidinha e por isso canta. Eu também não estou feliz, mas tenho minha garrafa de vinho e por isso escrevo!
Não que minha felicidade se resuma apenas a bebida e música. Mas nesse momento essa combinação maravilhosa me faz perfeitamente bem que eu não consigo me preocupar com outros males. Eu só preciso balançar os ombros no tom da música e descer a cada cinco minutos para encher minha taça. Mas isso me faz tão bem! Assim como o vinho barato na taça de cristal.
Thursday, March 08, 2007
João sem sal.
Já fazia um tempo que João achava que o mundo não tinha mais jeito ultimamente. Acordava todo dia e tomava o café lendo o jornal sobre as desgraças do dia. Trabalhava o dia inteiro e quando voltava pra casa a noite jantava péssimas comidas congeladas sem sal e assistia as desgraças no jornal da noite da televisão. Já tinha tempo que ele não se divertia. Mulheres então nem pensar. Só trabalhava o dia inteiro pra pegar o dinheiro no final do mês e pagar as contas e sustentar os poucos luxos como a tevê a cabo e alguns discos em vinil de sua época de jovem dos quais nunca tinha tempo para escutar e que provavelmente ficariam acumulando pó no solitário apartamento de dois cômodos. Passava o trajeto do ônibus olhando a cidade pela janela e se lamentando por não ser como aquelas pessoas normais que conseguiam ter vidas legais. Do tipo freqüentar bares e restaurantes, ler livros interessantes e ver filmes no cinema só pra ter o que conversar. João não tinha absolutamente nada pra conversar e qualquer pessoa que se aproximasse ia achá-lo alguém muito monótono. Por isso também não tinha amigos. Até seu nome era sem graça, pensava.
A única pessoa que via com freqüência era sua mãe uma vez a cada duas ou três semanas. Não conseguia agüentar os sermões dela sobre sua vida. Mesmo a comida dela sendo muito boa tudo aquilo não compensava.Valia mais a pena ficar com os congelados sem sal. Preferia a companhia de seu cachorro são Bernardo Mário e dar umas voltas nos quarteirões ao redor pra ver um pouco do pôr do sol deprimente. Depois chegava em casa e tomava um café bem forte com um gosto não muito agradável pelo velho coador de pano. Comia umas bolachas água e sal e assistia um pouco das desgraças no jornal da televisão. Então ia dormir e sonhar com uma vida legal pensando que em algum canto da cidade pessoas interessantes deviam estar se divertindo e fazendo coisas interessantes e bacanas. A vida de João era um marasmo.
Até o dia em que foi incomodado enquanto almoçava num restaurante de classe-média próximo a empresa onde trabalhava. Uma garota sozinha como ele sentada na mesa ao lado. Era jovem e vestia roupas atraentes. João achou ela muito bonita. Olhou pra ela por alguns segundos até ter sua atenção chamada de novo:
- Você poderia emprestar o sal pra mim? disse ela.
- Sa-sal?
- É o sal. Esse pó branco nesse vidrinho ai na sua mesa. Ela riu e provocou risos de canto da boca em João também. Ele passou o sal e voltou a comer. Ela interrompeu: -
Você sempre almoça aqui sozinho assim?
- S-si-sim...e-e você?
- É...hmm, geralmente sim.
Suas mãos tremiam. Tirando a zeladora de seu prédio essa era a única mulher que puxava algum assunto com João. As vezes era educação. Ela não ia gostar de alguem como eu, pensou.
- Quer sentar na minha mesa? Convidou a garota.
Aproximadamente trinta segundos depois João conseguiu desferir as palavras de confirmação. Almoçaram e conversaram sobre coisas em comum Nos dias seguintes voltaram a almoçar juntos no mesmo restaurante. E depois sairam pra jantar. E depois juntos na cama. E depois começaram a namorar.
Viraram noivos e moraram juntos. Tomavam café forte e comiam bolachas de água e sal todas as tardes.
Ela adorava cozinhar, e fazia tudo com muito sal. Fato que João adorava duplamente por não ter mais que comprar comidas congeladas e por poder sentir o gosto de sal que fora privado de seu paladar a tanto tempo. Massas, frituras, grelhados e assados. Tudo regado a muito sal. E nos churrascos de final de semana na cobertura do prédio carne mal passada com muito sal grosso.
Viveram felizes e bem alimentados até o dia em que ela encontrou João morto em sua cama. A autópsia registrou que ele havia morrido de uma crise de hipertensão. O motivo - excesso de sal.
Pela madrugada
Eu andava pelas ruas da cidade na inquietude da madrugada em passos rápidos e largos levemente sutis pela embriaguez adquirida nos caóticos bares da cidade.
Bêbados, mendigos, homens de classe, prostitutas, traficantes, patricinhas, bandidos, viciados, fanáticos, playboys, hippies, rockeiros, sambistas e todo tipo de pessoa. Todos dividem as mesmas noites serenas cada qual com sua vidinha.
Bêbados, mendigos, homens de classe, prostitutas, traficantes, patricinhas, bandidos, viciados, fanáticos, playboys, hippies, rockeiros, sambistas e todo tipo de pessoa. Todos dividem as mesmas noites serenas cada qual com sua vidinha.
Eu só andava querendo chegar em casa passando pelo mínimo de situações constragedoras e perigosas pela madrugada.
E cada barulho do meu passo na calçada é como uma pergunta de mim para a rua que responde em silêncio e ar de solidão. São horas que eu tinha vontade de ter o hábito de fumar. Acender um cigarro aquecendo a madrugada e vendo a vida passar mais devagar, ao mesmo tempo em que diminuo o tempo da mesma. Mas como eu não fumava só me restavam as cervejas e os chicletes de menta baratos. Esse negócio todo de chicletes e bebidas já tinha me dado um ínicio de problema com gastrite uns anos atrás. Mas agora eu não ligava mais pra isso.
Passei por uma das ruas movimentadas da madrugada. Numa esquina bichos-grilo dividiam um baseado em extrema comunhão de hábitos e amizade. Na outra garotos ricos ouviam som de um carro do ano e bebiam cervejas e whiskye caros. As diferenças da noite.
Sirenes ecoavam pela madrugada. Filhos batiam carros e pais choravam. Outros filhos entravam em overdoses mas ninguem chorava por eles. A não ser eles mesmos.
E mesmo com tantas diferenças as madrugadas costumam ser sempre iguais.
E cada barulho do meu passo na calçada é como uma pergunta de mim para a rua que responde em silêncio e ar de solidão. São horas que eu tinha vontade de ter o hábito de fumar. Acender um cigarro aquecendo a madrugada e vendo a vida passar mais devagar, ao mesmo tempo em que diminuo o tempo da mesma. Mas como eu não fumava só me restavam as cervejas e os chicletes de menta baratos. Esse negócio todo de chicletes e bebidas já tinha me dado um ínicio de problema com gastrite uns anos atrás. Mas agora eu não ligava mais pra isso.
Passei por uma das ruas movimentadas da madrugada. Numa esquina bichos-grilo dividiam um baseado em extrema comunhão de hábitos e amizade. Na outra garotos ricos ouviam som de um carro do ano e bebiam cervejas e whiskye caros. As diferenças da noite.
Sirenes ecoavam pela madrugada. Filhos batiam carros e pais choravam. Outros filhos entravam em overdoses mas ninguem chorava por eles. A não ser eles mesmos.
E mesmo com tantas diferenças as madrugadas costumam ser sempre iguais.
Matando o tempo.
Levantei perto do meio-dia. Lavei o rosto e comi um pouco da pequena marmitex reservada pra mim. Tomei um banho quente. Mesmo com o calor de 28 graus eu não conseguia tomar banho frio. Maldita mania. Vesti a calça velha e calcei os tênis furados e coloquei a nova camiseta branca dos Rolling Stones que já começava a adquirir sua nova coloração de acordo com seu uso.
Conferi os bolsos e nada. Depois as gavetas, armários, bolsas de minha mãe e ainda nada.
Fui até meu irmão que assistia televisão em frente ao sofá e perguntei se ele não teria dois reais pra me emprestar para que eu pudesse pegar o ônibus. Resposta negativa, foda-se esse maldito. Pernas pra que te tenho. Seis quilômetros na bota pela frente.
Desci a rua de minha casa e virei a direita. O sol estava forte e batia em minha cabeça. Andei mais um pouco e virei umas ruas aqui e outras ali. Direita. Esquerda.
Cheguei a uma rua que dividia um pequeno fundo de vale com muitas arvores a direita e casas humildes com pessoas sentadas em cadeiras de descanso a esquerda. Em cada uma delas devia haver um refrescante suco gelado em suas velhas porem cheias geladeiras. Por isso eu adoro essas pessoas. Mesmo privadas de luxos inúteis elas conseguem encher a geladeira, sentar em frente de suas casas e ser realmente felizes com seus cigarros baratos e suas conversas banais. E isso é verdadeiramente maravilhoso.
Cruzei a rua das casinhas humildes e cheguei na avenida principal. Extensa e íngreme. Enquanto o sol forte batia a pino agora sem arvores para aliviar meu calor.
Subi devagar enquanto sentia o suor escorrer pelas minhas orelhas. O boné na cabeça e os óculos escuros ajudavam mas não diminuíam os raios de sol contra meu rosto e meu corpo.
Perna direita. Perna esquerda. Passo rápido. Passo lento. Já estava a certa altura da avenida, agora não faltava muito em distância e sim em resistência. Força Gabriel, você já agüentou distâncias maiores sem reclamar. Mentira, você reclamou bastante mas agora simplesmente não tem com quem reclamar. Então suba e ande e aperte seu passo.
E logo a distância era mínima. Mas minha garganta estava amarrada de sede. Passei em frente a um bar. Oh se eu tivesse dinheiro pra comprar um refrigerante. Não preciso sonhar tão alto. Uma garrafa de água já estava de bom tamanho. Quem sabe um copo?
Cheguei a escola de música encontraría uns amigos para tocar algumas canções. Tomei quase um litro de água em questão de minutos. Um tempo depois eles chegaram.
Tocamos as músicas sem nada de muito relevante. Apenas voltando a forma perdida após duas semanas sem ensaio. Matamos o resto do tempo comendo lanches de pão de forma com mortadela e tomando refrigerante de uva na cozinha da escola musical.
Liguei pra minha mãe pra tentar uma carona. Sem sombra de dúvidas eu não tinha condições de encarar mais quatro quilômetros de volta pra casa. Mesmo agora sendo só de descidas e não tendo mais sol para fritar meus miolos eu não tinha a mínima disposição. Não mesmo.
Peguei carona com minha mãe em frente ao Mc'donalds da avenida maringá, ao lado do meu antigo colégio e do apartamento que morava a bons meses atrás. E finalmente eu voltaria pra casa de carro e ficaria a toa e ótimo. Mas ela tinha um compromisso do outro lado da cidade e eu teria que fazer hora. Me deu quatro reais em moedas e fui até a padaria ao lado do prédio onde ela tinha ido pra matar o tempo.
Um bairro tranquilo e uma avenida com movimento frequente porem calmo. Perguntei o preço da cerveja ao atendente. Dois reais e sessenta centavos a garrafa. Não compensaria tomar só uma garrafa. Comprei um desses refrigerantes baratos de dois litros e um pacote de salgadinhos. Tomei alguns copos do refrigerante e me arrependi por não ter pego a cerveja. Comi alguns salgadinhos e descobri estar sem a mínima fome. Oh cerveja porque eu não segui o caminho que você me indicou na geladeira da padaria. Ainda se fosse o meu refrigerante preferido, mas ele estava extremamente quente e não compensaria o meu pobre dinheirinho em moedas.
Continuei tomando meu refrigerante vagabundo e olhando para a rua. Ônibus passavam e as pessoas nos automóveis me olhavam sentado na mesa de plástico da padaria.
Ela voltou e voltamos para casa. Passei o resto da noite lendo. Matando o tempo pra ele não me matar.
Subscribe to:
Posts (Atom)