Wednesday, April 04, 2007

A madame e o motorista.



Ela era loira natural. Seios turbinados de silicone, nariz de cirurgia plástica e roupas da última moda. Gastava cinquenta reais para aparar as pontas do cabelo e desfilava pelo shopping três vezes por semana entrando de mãos vazias e saindo com dezenas de sacolas. Todas elas carregadas por um motorista contratado de quépe e terno completo. Ela tinha até nome de gente importante. Valquiria Nascimento de Mello. Chiquérrima.
Ele por outro lado tinha um nome igual a tantos outros brasileiros. Era José Carlos Da Silva. Zé Silva no trabalho por causa de outros Zé que tinham por lá e Zeca para os amigos de futebol e churrascos. Era manobrista do melhor shopping da cidade. Onde vendiam as roupas mais caras e as senhoras e senhores mais importantes passavam para renovar seu guarda-roupa.
As roupas de Zeca eram as mesmas a anos. Vez ou outra ganhava uma camisa ou meias da liquidação da loja popular no natal. Presente da vovó.
Pelo menos o emprego conseguira. Não era lá grandes coisas mas era o que Zéca sabia fazer. Dirigia muito bem e sempre fora o melhor no volante desde os amigos de adolescência.
Passava o dia girando volantes e pisando em freios e aceleradores de carros de maior luxo. Conhecia praticamente todos os carros importantes da cidade. Havia dirigido cada um ao menos uma vez. Mesmo que fosse por apenas alguns metros fazendo curvas e balizas.
Um dia o destino pregou uma peça. O motorista de dona Valquiria havia sido demitido por ela mesma. Segundo ela incompetencia. Chegara minutos atrasada no chá com as amigas na delicatéssen mais famosa da cidade. O trânsito estava feio e a hora do rush começava a dar seus sinais caóticos na grande cidade. Mas ela pouco se importou. Marcou seu chá as cinco e queria ser pontual como as ladyes inglesas deviam ser. Por isso decidiu ela mesmo dirigir ao shopping. Lá pagaria algum funcionário ou vendedor para levar as sacolas. E foi.
Chegou apressada. Largou o Porsche ganhado de presente pelo marido executivo que passava a maioria dos dias viajando na frente do estacionamento e jogou as chaves para Zéca. Não costumava gostar de ninguem. Nem mesmo gostava de seu marido e não se importava se ele tivesse amantes em suas constantes viajens. Ele financiava seus luxos e isso era o suficiente para ela. Mas simpatizou com Zeca de sopetão. Chamou o gerente do estacionamento do shopping e disse que queria o rapaz para ajuda-la a carregar as compras. Ele concordou e aconselhou o funcionário a manter o bico calado e ajudar no que fosse preciso.
Zeca acompanhou a dona por dentro do shopping. Trabalhava no mesmo lugar a mais de dois anos mas entrara no shopping no máximo três vezes. Os vendedores não gostavam de funcionários externos zanzando pelo shopping. Tinham uma imagem a zelar, diziam.
Zeca acompanhou a dona em todas as lojas. Não abria o bico em momento algum. Ela experimentava as roupas e perguntava sua opinião. Dizia que a senhora estava muito mágnifica e encolhia os ombros com vergonha. Horas de compra se passaram. A dona foi até a praça de alimentação tomar um cappucino e comer um croissant. Zeca associou aquele lanchinho de dona Valquiria com seu pão com mortadela e seu pingado todas as manhãs no bar da esquina de sua casa. Ela perguntou se Zeca estava com fome. Ele confirmou vergonhoso. Ela pediu o mesmo para o rapaz. Se deliciou na comida. Era muito melhor que pão com mortadela e pingado.
Sairam do shopping e foram ao carro. Zeca se atrapalhava em meio a tantas sacolas mas se saia bem. Dona Valquiria caminhava com seu salto alto elegante a sua frente. Descarregou as compras no banco de trás do carro. Valquiria indagou quanto o jovem rapaz recebia. Receoso Zeca falou tímido - Quatrocentos senhora. Disse que agora ele poderia ser seu chofer pelo dobro do salário. Aceitou e pediu as contas ao antigo chefe.
Ganhou quépe e terno. Agora era "elegante" também. Mesmo sem trabalhar no estacionamento continuava indo ao shopping toda semana. Os ex-colegas de trabalho agora comentavam que Zé Silva era protegido da Dona. Zeca se sentia importante. Era um bom motorista para a dona.
Um dia ao sair do shopping após mais uma tarde de compras incessantes ela indicou caminhos diferentes ao da mansão no bairro nobre onde moravam. Zeca seguiu obedientemente. Pararam em frente a um motel. Um dos mais populares da cidade. Zeca perguntou se não se tratava um engano da dona. Ela mandou seguir.
Entraram num dos quartos de paredes imundas e chuveiro elétrico no banheiro. Valquiria satisfez seus desejos de ser possuída como uma qualquer, por seu motorista. Numa cama velha com lençóis sujos.
Desse dia em diante repetiram o caminho todas as semanas.

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