Thursday, May 10, 2007

Feriado do dia do trabalho de um desocupado.


O feriado foi ofuscado por uma ressaca leve de uma bebedeira no dia anterior e por um desânimo típico de um domingo em plena terça feira. Feriado do dia do trabalhador. Em muitos lugares do país trabalhadores faziam protestos e festas por esse dia. Eu não trabalhava e mal estudava, portanto era um dia como outro qualquer.
Convenci meu pai a pegarmos pizza e filmes a noite. Filmes alemães muito bons (coisas que só fui descobrir em casa) e pizza da “Pizza Hut”. Preço um pouco alto mas a qualidade indiscutível. Meia corn e bacon e meia pepperoni. Com direito a borda recheada de cheddar em virtude de que o tipo de massa que havíamos pedido primeiramente já havia acabado, assim a atendente ofereceu a borda de cheddar sem preço adicional. De graça, free.
Então a quarta-feira com cara de segunda. Acordei depois do meio dia, como um desocupado que se preze. Almocei um pedaço de pizza amanhecida da noite anterior. A fome voltou e fiz lingüiças no grill. Sentei a mesa que ficava do lado de fora da casa e o vento bateu em meu rosto e senti que aquela era a melhor vida que eu podia levar no futuro.
Meu pai não estava em casa. Mas sua secretária e a diarista estavam. Peguei três latas de cerveja da geladeira e coloquei disfarçadamente no freezer do lado de fora. Fiquei lá comendo lingüiça e bebendo cerveja. Matei duas latas. Estava perto da hora do ônibus passar e precisava tomar um banho. Amassei as latas e coloquei bem escondidas na lixeira. Peguei a lata que havia sobrado e segui até o banheiro da suíte do meu pai. Tranquei a porta do quarto e liguei a televisão. Os canais estavam chiando e quase todos pegando mal. Uma televisão temperamental. Tomei a cerveja, amassei a lata e tomei banho.
Me arrumei e segui até o ponto de ônibus na frente do condomínio de residências. Senhoras, provavelmente empregadas domésticas que trabalhavam no condomínio conversavam: - Meu irmão esta com água no pulmão. Ele tem que fazer uma cirurgia onde enfiam um cano pelo nariz para tirar. (...) A conversa prosseguiu entre doenças e hospitais:
- A filha da minha vizinha é enfermeira e ela falou que chega a chorar direto. – Deve ser difícil né? – E é. Ela diz que sempre vê as “pessoa” morre na frente dela e que sempre o que morre de bebê recém nascido não é brincadeira, coisa triste. – É horrível essas coisas, eu num guentaria “trabaia” em hospital não! – Nem eu menina, é pesado o negocio!
Sentei no banco de concreto e fiquei lendo meu livro (A sangue frio de Truman Capote) enquanto elas conversavam em alto tom de voz atrás de mim. As telhas que formavam a proteção acima do ponto de ônibus deviam servir apenas para chuvas, o local era exatamente aonde o sol batia mais forte e refletia em meu rosto.
O ônibus chegou e todos subiram. Estava vazio e escolhi um lugar onde não batesse sol para me sentar. Estes lugares eram os bancos ao lado direito do ônibus. Certa vez neste mesmo ônibus havia sentado ao lado esquerdo e o sol havia pairado sobre minha cabeça durante todo o trajeto. Mergulhei no livro e a cada parada do ônibus abria os olhos e estava em um lugar diferente, onde eu nunca havia visto ou estado. Apenas em um deles eu tive uma breve recordação de já ter passado por lá, de ônibus também.
Depois de rodar os distritos e condomínios da região chegamos ao pequeno terminal do shopping center de Londrina. Desci e fui até o bebedouro. A água quase não saia e havia de se fazer muito esforço para tomar alguns goles. O ônibus que iria até o terminal principal chegou e subimos. Rapidamente estava lotado e a cada parada mais e mais pessoas se amontoavam dentro. Eu havia conseguido um lugar sentado e alternava momentos entre ler e olhar a cidade pela janela. Em uma das paradas o ônibus já estava lotado e um senhor queria entrar. Bateu forte na porta principal como se estivesse batendo na casa de alguém mas o motorista não abriu. Haviam pessoas praticamente saindo pelas janelas e todas elas se amontoavam em pequenos espaços. Quem estava sentado permanecia confortavelmente imune a toda essa lotação física. O motorista abriu a porta de trás e o homem subiu e se ajeitou até achar um lugar onde pudesse se firmar.
Chegamos ao terminal e eu estava em dúvida se iria para casa ou se iria até a biblioteca pública renovar o empréstimo do livro. Havia saído as pressas pois achava que era o dia máximo para devolver ou renovar o livro, mas descobri no ponto de ônibus que este prazo se estendia até a sexta feira, dois dias alem. Como eu teria que sair de casa para ir até o colégio na sexta poderia passar lá. Então resolvi economizar dois reais e seguir direto para casa.
O ônibus demorou a chegar e uma considerável quantidade de pessoas se amontoou em frente aonde ele viria a parar. Quando chegou começou aquele processo de mini-caos onde as pessoas que estão dentro se apressam para sair e pegar seus ônibus para chegarem mais rápido em seus respectivos destinos e as que estavam fora se preparavam para iniciar uma batalha de entrada mais veloz ao veiculo e garantir um lugar sentado para chegar em suas casas e destinos confortavelmente.
Cheguei na casa de minha mãe e ela disse que não queria cozinhar. Pedimos pizza. Dessa vez da barata, de uma pizzaria a algumas quadras de casa. Sem problemas para mim. Pizza é de longe minha comida favorita. Dessa vez foi meia brócolis e meia milho.
E é isso ai.

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