Thursday, March 01, 2007

Dor de corno.



Parou na porta do bar mas não quis entrar. Tirou o maço de cigarros amassado do bolso e colocou um na boca. Na mão direita carregava um cantil desses de whiskye. Passou a mão pelos cabelos grisalhos e coçou a barba mal feita na cara arrasada. Chegou até mim e pediu fogo.
- Só tenho fósforos companheiro.
- Serve. retrucou.
Passei a caixa pra mão dele. Tirou um palito e acendeu o cigarro. Estendi a mão e ele me devolveu a caixa. Abriu o cantil e ao inves de tomar despejou pelo chão aos seus pés. Bem na estreita porta do bar. Eu só acompanhava os movimentos do velho homem. Deve ser algum tipo de louco da cidade, pensei.
Deu mais umas tragadas no cigarro e assoprou a fumaça. Olhou pra mim e disse um "obrigado" fraco e baixo, quase ináudivel. Deixou o cigarro cair ao chão e o fogo se alastrou pela porta do estabelecimento. Pulei a labarada de aproximadamente trinta centimetros que crescia rapidamente e corri em direção ao telefone público pra ligar pros bombeiros. Olhei de canto de olho e o desgraçado já tinha sumido pelas ruas estreitas do bairro.
Os bombeiros chegaram e controlaram a situação. Muitas ambulâncias se amontoaram em frente ao pequeno bar. Pobres bebuns.
Fui pra casa e fiz um café forte pensando em porque aquele maluco havia queimado a porta do bar e porque eu havia emprestado os fósforos. Deitei na cama e dormi pensando no que faria se tivesse alcançado o indivíduo.
No outro dia acordei cedo. Calcei os chinelos e sai para comprar pães e mortadela. Voltei e sentei no sofá para comer um pão e ler as notícias do dia. No canto direito inferior da capa estava a matéria que chamou minha atenção. "Marido traído ateia fogo em bar onde estavam mulher e amante, dez feridos incluindo o casal".
"Nunca mais empresto fogo pra ninguém". Gritei em voz alta enquanto preparava outro sanduíche de mortadela.

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