Eu andava num tédio danado nos últimos meses. Fazia um tempo que eu só estava tomando vinho barato e assistindo aos notíciarios na Tv.
Saia pela rua vez ou outra pra comprar cigarros e abastecer meu estoque de vinho e uma vez por mês a sede da Assistência pra pegar a grana do meu seguro-trabalho para deficientes. Não que eu fosse um, mas nada que um bom dinheiro não compre um atestado assinado.
Não gostava dessa nova juventude. Eles ficavam por ai bagunçando nas ruas e fazendo coisas inuteis. Aonde é que essa porra de país vai parar, eu pensava.
Ficavam naquela porcaria de escada da igreja fumando seus bagulhos e mechendo com quem passasse. Eu estava louco pra que algum daqueles delinquentes mechesse comigo em algum dia em que eu não estivesse bom pra mete-lo uma boa surra e faze-lo rolar escada abaixo. Mas acho que eles temiam meu olhar de bêbado psicótico. Melhor assim.
Certo dia o telefone tocou. Fazia tempo que ninguem me ligava. Até demorei a atender.
- Pronto.
- John? John Buzziani?
- É. Que porra você quer me vender?
- Não, não é isso John. É que sou...
- Não vou votar em ninguem seu maldito. Esqueça.
- Também não é isso. Sou Marc Gilbest. Trabalhamos juntos na repartição em 1986.
- Ah sim. Claro que lembro. A gente costumava tomar umas cervejas junto né?
- Isso. Mas to ligando pra te convidar pra uma festa minha.
- Festa do que? Você ta fazendo aniversário é?
- Não, não é isso John. Eu escrevi um livro e vou dar um coquetel de lançamento.
- Livro de contos eróticos ou esses romances de empregada?
- Não. É um livro sobre uma teoria do fim do universo.
- Se é coquetel tem bebida certo?
- Sim. Mas o intuito da reunião é debater sobre o livro e como sei que você também se agradava a escrever....
- Beleza. To dentro.
Me falou o horário e ficou um tempo agradacendo até desligar. Cara chato do caramba. Pelo menos ia ter bebida. Mas eu esqueci de perguntar que porra de roupa ia ter que usar nesse negócio. Que se foda. Vou com aquele terno velho mesmo, e não to afim de lavar.
Matei o resto da minha garrafa de vinho e cai de sono no sofá.
Passei o resto do dia assistindo aquelas porcarias de novelas mexicanas até chegar a hora do tal coquetel. Tomei um banho como eu não tomava a tempos. Bem tomado mesmo. Dos pés a cabeça. As bebidas vão compensar. Eu espero.
Fiz a barba e coloquei o terno velho e amarrotado. É John, até que pra um trintão acabado você está bem hoje. Peguei o metrô e desci na estação perto do tal lugar. Numa ruazinha deserta, um lugar mal iluminado e com seguranças bem pagos a frente. Falei meu nome e sobrenome e entrei.
Um monte de intelectuais metidos a besta ao redor. Alguns me olhavam com desprezo, provavelmente pelo terno. Que se fodam esses malditos lambe-sacos do Einstein.
Umas mulheres charmosas com vestidos sexys e uma mesa de frios enorme. Tá legal, frios são gostosos mas eu queria mesmo saber da porra da bebida. Olhei pro balcão e lá estava um senhor colocando garrafas de whiskye na bandeja do outro garçom mais jovem que saia distribuindo pelo recinto.
Cheguei firme no balcão e tirei minha dose. Olhei pro lado e o tal do Marc estava vindo conversar comigo. Agradeci o chato pelo convite e ele começou a falar sobre a idéia do livro, e sobre sua teoria e em volta de nós começaram a se amontoar intelectuais com suas esposas em vestidos sexys enquanto eu não conseguia entender nada daquela conversa sobre uma teoria de surgimento e fim do universo e abordava o garçon dose após dose.
Já pelas tantas olhei em volta e vi os safados ainda em estado primário de bebedeira. Parece que esses inteligentões filhas da mãe não ficam bêbados. Ou não bebem. Aquele de óculos e terno azul está rodando o mesmo copo de whiskye com gelo a quase uma hora. Eles que se fodam, se não bebem bebo eu.
Numa dessas abordagens ao garçom o desgraçado não me viu. Ou fingiu que não viu. Passou reto eu fui atrás. Não ia ficar de copo vazio num lugar onde era tudo de graça.
Passei um grupo de moças discutindo receitas de peru para as festas de fim ano e vi o garçon contornar do lado esquerdo da mesa de frios. Apertei o passo torto e passei firme do lado da mesa. Só deu pra sentir algo enroscado na minha perna. Mas não dava tempo de parar, eu precisava pegar a minha dose com esse crápula. O tempo de um estalo e um fisgão na minha calça velha do terno e olhar pra trás e ver todos aqueles rosbifes, salames, peitos de peru, queijos suiços, cebolas em conserva, carpacios, pratos de porcenala, thaleres de prata voando no ar e num doloroso espetaculo gastronomico cairem nas cabeças, vestidos, sapatos de camurça e decotes das senhoras que discutiam sobre os perus.
Do outro lado da mesa os ternos italianos de linho e os cabelos milimetricamente repartidos esbaldados pelos molhos das conservas e pedaços de frios. O chão era praticamente uma mistura de cores e temperos. O tal do Marc me olhava atravessado, e o resto da festa também. Era eu ou eles.
Alcancei o garçon e puxei a garrafa quase cheia de whiskye. Corri deslizando pelos frios e molhos até a porta. Passei correndo pelos seguranças mal encarados e bem pagos que ainda não deviam nem imaginar o que se passava lá dentro da convenção sobre o surgimento ou fim do mundo.
Alcancei o primeiro ônibus que passava no ponto em diagonal a boate sem nem ao menos ver o destino. Entrei e sentei ao fundo abraçado com minha garrafa de whiskye. Agora é só eu e você querida. Nada de fim do universo ou frios.
Saia pela rua vez ou outra pra comprar cigarros e abastecer meu estoque de vinho e uma vez por mês a sede da Assistência pra pegar a grana do meu seguro-trabalho para deficientes. Não que eu fosse um, mas nada que um bom dinheiro não compre um atestado assinado.
Não gostava dessa nova juventude. Eles ficavam por ai bagunçando nas ruas e fazendo coisas inuteis. Aonde é que essa porra de país vai parar, eu pensava.
Ficavam naquela porcaria de escada da igreja fumando seus bagulhos e mechendo com quem passasse. Eu estava louco pra que algum daqueles delinquentes mechesse comigo em algum dia em que eu não estivesse bom pra mete-lo uma boa surra e faze-lo rolar escada abaixo. Mas acho que eles temiam meu olhar de bêbado psicótico. Melhor assim.
Certo dia o telefone tocou. Fazia tempo que ninguem me ligava. Até demorei a atender.
- Pronto.
- John? John Buzziani?
- É. Que porra você quer me vender?
- Não, não é isso John. É que sou...
- Não vou votar em ninguem seu maldito. Esqueça.
- Também não é isso. Sou Marc Gilbest. Trabalhamos juntos na repartição em 1986.
- Ah sim. Claro que lembro. A gente costumava tomar umas cervejas junto né?
- Isso. Mas to ligando pra te convidar pra uma festa minha.
- Festa do que? Você ta fazendo aniversário é?
- Não, não é isso John. Eu escrevi um livro e vou dar um coquetel de lançamento.
- Livro de contos eróticos ou esses romances de empregada?
- Não. É um livro sobre uma teoria do fim do universo.
- Se é coquetel tem bebida certo?
- Sim. Mas o intuito da reunião é debater sobre o livro e como sei que você também se agradava a escrever....
- Beleza. To dentro.
Me falou o horário e ficou um tempo agradacendo até desligar. Cara chato do caramba. Pelo menos ia ter bebida. Mas eu esqueci de perguntar que porra de roupa ia ter que usar nesse negócio. Que se foda. Vou com aquele terno velho mesmo, e não to afim de lavar.
Matei o resto da minha garrafa de vinho e cai de sono no sofá.
Passei o resto do dia assistindo aquelas porcarias de novelas mexicanas até chegar a hora do tal coquetel. Tomei um banho como eu não tomava a tempos. Bem tomado mesmo. Dos pés a cabeça. As bebidas vão compensar. Eu espero.
Fiz a barba e coloquei o terno velho e amarrotado. É John, até que pra um trintão acabado você está bem hoje. Peguei o metrô e desci na estação perto do tal lugar. Numa ruazinha deserta, um lugar mal iluminado e com seguranças bem pagos a frente. Falei meu nome e sobrenome e entrei.
Um monte de intelectuais metidos a besta ao redor. Alguns me olhavam com desprezo, provavelmente pelo terno. Que se fodam esses malditos lambe-sacos do Einstein.
Umas mulheres charmosas com vestidos sexys e uma mesa de frios enorme. Tá legal, frios são gostosos mas eu queria mesmo saber da porra da bebida. Olhei pro balcão e lá estava um senhor colocando garrafas de whiskye na bandeja do outro garçom mais jovem que saia distribuindo pelo recinto.
Cheguei firme no balcão e tirei minha dose. Olhei pro lado e o tal do Marc estava vindo conversar comigo. Agradeci o chato pelo convite e ele começou a falar sobre a idéia do livro, e sobre sua teoria e em volta de nós começaram a se amontoar intelectuais com suas esposas em vestidos sexys enquanto eu não conseguia entender nada daquela conversa sobre uma teoria de surgimento e fim do universo e abordava o garçon dose após dose.
Já pelas tantas olhei em volta e vi os safados ainda em estado primário de bebedeira. Parece que esses inteligentões filhas da mãe não ficam bêbados. Ou não bebem. Aquele de óculos e terno azul está rodando o mesmo copo de whiskye com gelo a quase uma hora. Eles que se fodam, se não bebem bebo eu.
Numa dessas abordagens ao garçom o desgraçado não me viu. Ou fingiu que não viu. Passou reto eu fui atrás. Não ia ficar de copo vazio num lugar onde era tudo de graça.
Passei um grupo de moças discutindo receitas de peru para as festas de fim ano e vi o garçon contornar do lado esquerdo da mesa de frios. Apertei o passo torto e passei firme do lado da mesa. Só deu pra sentir algo enroscado na minha perna. Mas não dava tempo de parar, eu precisava pegar a minha dose com esse crápula. O tempo de um estalo e um fisgão na minha calça velha do terno e olhar pra trás e ver todos aqueles rosbifes, salames, peitos de peru, queijos suiços, cebolas em conserva, carpacios, pratos de porcenala, thaleres de prata voando no ar e num doloroso espetaculo gastronomico cairem nas cabeças, vestidos, sapatos de camurça e decotes das senhoras que discutiam sobre os perus.
Do outro lado da mesa os ternos italianos de linho e os cabelos milimetricamente repartidos esbaldados pelos molhos das conservas e pedaços de frios. O chão era praticamente uma mistura de cores e temperos. O tal do Marc me olhava atravessado, e o resto da festa também. Era eu ou eles.
Alcancei o garçon e puxei a garrafa quase cheia de whiskye. Corri deslizando pelos frios e molhos até a porta. Passei correndo pelos seguranças mal encarados e bem pagos que ainda não deviam nem imaginar o que se passava lá dentro da convenção sobre o surgimento ou fim do mundo.
Alcancei o primeiro ônibus que passava no ponto em diagonal a boate sem nem ao menos ver o destino. Entrei e sentei ao fundo abraçado com minha garrafa de whiskye. Agora é só eu e você querida. Nada de fim do universo ou frios.
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