Monday, February 12, 2007

Barracas e utilidades.



Andou uns passos da rua. Passou por um homem de terno e gravata e cara séria. Parou uns segundos, pensou e voltou.
-Ei, Antônio? Tony?
O homem olhou pra ele por alguns segundos, sorriu e falou:
-Mário?
Abraçaram-se por um longo tempo. Grandes amigos que se encontravam depois de quase trinta anos. Agora os dois já tinham mais de cinquenta e não vinte e poucos como nas épocas de ouro.
Decidiram tomar um café, relembrar os velhos tempos. Mário recusou o café e pediu uma cerveja.
-Então o que você tem feito seu engravatado?
-Virei gerente de banco. Coisa séria. Sou casado e pai de família. E você continua o mesmo?
-Ahn, digamos que sim. Nesses trinta anos basicamente as únicas coisas que eu fiz foram beber e ler os jornais de esportes.
-Resumindo que você continua o mesmo então.
Gargalhadas soaram pelo ar.
-E ai Tony, e aqueles poemas e contos que você fazia e eu me amarrava. Como é que ficaram?
-Sabe como é companheiro, parei no tempo. Alguns ainda devem estar na minha velha gaveta. Mas não pratiquei mais. E você ainda na ativa?
-Como sempre. Ainda na antiga maquina de escrever.
-Aquela do sorteio do bar do Seu Zé em julho de 1976?
-A própria, em ferro e poeira. Você sempre foi bom com datas seu velho.
-Olha quem fala de mim. Cinquenta anos com carinha de setenta.
Mais risadas ecoaram pela pequena padaria.
-Tony seu maldito engravatado. Essa coisa de café é pra banqueiros veados. Vamos tomar cerveja.
-É bancários Mário. Seu ignorante, mesmo lendo tanto nesse teu eterno ócio você não aprende?
Mas já que é por um bom amigo eu aceito a cerveja. Confeso que pensei bastante em você nesses tempos.
-Desce mais uma garçonete. Eu tambem pensei em você seu safado. Lembrando de todas aquelas trapalhadas dos vinte e poucos anos.
-Nem me fale. Bons tempos.
-Ótimos tempos.
-Lembra o acampamento no Rj onde a gente dormiu com as cinco menininhas hippies e no último dia foi assaltado?
-Claro que sim. Os malditos ladrões ainda deixaram um dos baseados com a gente.
-E a vez em que você bebeu tanto e inventou de arrumar briga com o desgraçado do Plínio no bar.
-E a gente teve que derrubar ele e os amigos dele com garrafas a torto e direita?
-A gente não, eu ia derrubando eles e defendendo você. Foram uns dez.
-É Tony. Naquela época você era um garotão bem forte. E não se metia nesses ternos ai.
-O meu espirito ainda é o mesmo. Seu induzidor de menininhas.
-Bem eu que fiz a filha do pastor virar uma profissional da noite né? hahahaha
Pagaram a conta e sairam pelas ruas. Pararam no primeiro brechó e compraram roupas das antigas pra Tony. Que se livrou do terno de grife italiana por alguns trocados e pra beber mais algumas cervejas.
Já muito bêbados decidiram o destino dali pra frente. Queriam uma vida tranquila. Tony se demitiu. Mário tomou jeito na vida.
Abriram com o capital de Tony e as idéias de Mário uma loja de roupas, bebidas, mochilas, barracas e utilidades.

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