Thursday, December 28, 2006

O melhor sanduíche do mundo.



Há 20 anos morava no mesmo apartamento do centro, pegava os mesmos caminhos e comia sanduiche no mesmo lugar. Não que fosse o melhor sanduiche da cidade, para outros era apenas mais um lanche como outro qualquer. Mas pra ele não.
Era sem dúvidas o melhor sanduiche do mundo e provavelmente comeria para sempre.
A lanchonete de vidros sujos e mesas redondas antigas, chão quadriculado e quadros de Elvis Presley, Chuck Berry, James Dean e Marylin Monroe espalhados pela parede. Uma jukebox velha e um pouco quebrada mas ainda em bom estado de funcionamento no canto.
De dia um lugar para se tomar milkshake e comer um inigualavel sanduiche. De noite uma discoteca embalada onde as músicas dos anos 50 agitava os jovens da cidade entre cervejas, cigarros e paqueras.
Sentava-se e pedia o mesmo de sempre, sabia o nome da garçonete e de todos os funcionários e o mesmo acontecia em troca. Não demorava mais que meia hora comendo seu sanduiche e tomando seu milkshake, pagava, agradecia e saia tomando o mesmo caminho de volta para casa.
Um dia deu de portas fechadas, pensou ser estranho por conhecer os horários de funcionamento de-cor e salteado. A placa na frente dizia fechado por motivo de luto, conformou-se ficar sem o sanduiche e recorreu a algumas sobras da geladeira, ainda intrigado com a placa na frente da lanchonete.
Alguns dias depois entrou no mesmo lugar e fez o mesmo pedido. Percebeu que o sorriso no rosto da garçonete e dos outros funcionários não era o mesmo, pareciam um tanto cabisbaixo.
Comeu o sanduiche e abriu os olhos. Tomou dois goles do milkshake e deu outra mordida pra se certificar. Estava certo, não era a mesma coisa de sempre. Faltava algo ou havia algo a mais no tradicional sanduiche.
Chamou a garçonete e questionou alguma mudança na receita, a qual simplesmente negou e afirmou ter exatamente os mesmos ingredientes de sempre.
Intrigado se levantou para ir ao banheiro e observou a janela que dava na cozinha, olhou atento e percebeu que era o auxiliar de cozinha que agora fazia os sanduiches.
Sentou no seu lugar e indagou respeitosamente a garçonete quem havia falecido para o motivo de luto. A nóticia lhe causou um choque, ficou quieto por uns minutos e apenas disse umas palavras de conforto a colega de profissão.
Nunca fora muito intimo do cozinheiro, apenas cumprimentos formais e elogios ao sanduiche. Mas agora sua falta pesava em sua consciencia. O cozinheiro havia partido dessa para melhor e fatalmente seu sanduiche tinha ido junto. Pediu a conta, pagou e se despediu.
Nunca mais voltou a lanchonete. Passou o resto dos seus dias tentando a cada janta acertar a fórmula do sanduiche, sem obter sucesso.

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